Ano das Cooperativas: Brasil pode apostar em saúde mais inclusiva
A decisão da Organização das Nações Unidas (ONU) de declarar 2025 como o Ano Internacional das Cooperativas traz ao centro do debate um modelo de organização econômica historicamente ligado ao desenvolvimento local, à geração de empregos e à promoção da inclusão produtiva. É um reconhecimento internacional do papel estratégico que as cooperativas desempenham em diferentes setores, e no Brasil, principalmente na saúde.
A iniciativa também é acompanhada de uma recomendação da ONU aos países-membros para que desenvolvam políticas públicas que incentivem o cooperativismo. Ao mesmo tempo, será construída uma agenda de cooperação técnica envolvendo governos, sociedade civil e iniciativa privada. Ou seja, fomenta uma oportunidade relevante para ampliar o impacto dessas organizações e integrá-las de forma mais estruturada às estratégias de desenvolvimento sustentável.
No Brasil, segundo o Anuário do Cooperativismo 2024, existem mais de 4,5 mil cooperativas, com cerca de 23,5 milhões de cooperados e mais de 550 mil empregos diretos gerados. A presença dessas organizações nos municípios tem correlação com melhores indicadores econômicos locais. Um estudo da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), em parceria com a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), aponta que cidades com cooperativas apresentam um aumento médio de R$ 5,1 mil no PIB per capita e 28,4 empregos adicionais a cada 10 mil habitantes.
No campo da saúde, o cooperativismo surgiu como resposta à necessidade de oferecer cuidados de qualidade a custos mais acessíveis, além de criar uma forma mais justa de organização do trabalho médico. Com o tempo, esse formato, em que está inserido o Sistema Unimed, se consolidou como uma estrutura capaz de viabilizar a prestação de serviços de saúde e também o financiamento de uma rede local que envolve clínicas, consultórios, laboratórios e hospitais, alguns deles, considerados os melhores do Brasil.
Em 2024, cooperativas médicas foram responsáveis por mais de 665 milhões de procedimentos em todo o país, movimentando R$ 96 bilhões. Esses números indicam a capilaridade e a relevância dessas instituições no ecossistema da saúde suplementar. Sua presença, sobretudo fora dos grandes centros urbanos, contribui para mitigar desigualdades no acesso à saúde.
Outro aspecto importante é a inserção territorial das cooperativas. Por sua natureza, são organizações comprometidas com o desenvolvimento das comunidades onde atuam. Esse vínculo se traduz em investimentos contínuos em ações sociais, projetos culturais, iniciativas ambientais e atividades voltadas à promoção da saúde e à capacitação profissional. Levantamento recente junto a 200 cooperativas médicas identificou um investimento conjunto de R$ 102 milhões em 2024, com impacto direto em mais de 24 milhões de pessoas.
A celebração internacional do cooperativismo em 2025 deve servir como ponto de inflexão. Ao reconhecer esse modelo como aliado no enfrentamento de desafios globais, como desigualdades sociais, crise ambiental e sustentabilidade dos sistemas de saúde, a ONU sinaliza que não se trata apenas de uma celebração simbólica, mas de uma orientação estratégica, celebrando o passado e avançando para o futuro.
É essencial que o Brasil acompanhe esse movimento, reconhecendo e incorporando o potencial do cooperativismo em suas políticas públicas. Com mais de um século de história no país, esse modelo demonstra resiliência, capacidade de inovação e um compromisso duradouro com a inclusão. Ao olhar para o futuro da saúde no Brasil, ignorar essa trajetória e seus resultados seria um desperdício de soluções já em curso.
*Omar Abujamra Junior é presidente da Unimed do Brasil.