Priorização do cuidado com a saúde na população transgênero não pode ser negligenciada

Por Odair Gomes Paiva

Quando falamos de saúde e autocuidado, vale para todo tipo de gênero. A busca pelo diagnóstico precoce, acompanhada de perto por um especialista, é fundamental para o equilíbrio do corpo e da mente, além de diminuir as chances de identificar doenças em estágio muito avançado. Dentre outros problemas, o médico urologista pode avaliar adequadamente a saúde da próstata, além do sistema urinário como um todo, apontando as melhores condutas de tratamento.

Com esse artigo gostaria de ir além e chamar atenção para uma parcela da população que se reconhece como transgênero ou não-binárias. Este público, estimado em aproximadamente três milhões de pessoas no Brasil, cerca de 2% da população adulta, de acordo com levantamento feito pela Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (FMB/Unesp), precisa estar atento e não negligenciar o cuidado com o corpo.

Quando falamos em infecção urinária, ao avaliarmos a população de transexuais masculinos que passaram pela cirurgia de colpectomia, ou seja, a retirada da vagina, estes apresentam uma incidência do problema aproximado em 6% após o procedimento. Tratando-se do mesmo assunto, já na mulher cisgênera, não observamos um aumento ou diminuição da infecção. É importante salientar que, os cuidados básicos e cotidianos para evitar o problema continuam sendo a devida higiene pessoal após o ato sexual, uso de preservativos, dentre outros.

Em relação aos transgêneros femininos que não realizaram a cirurgia de afirmação de gênero, os cuidados como higienização do pênis, principalmente do prepúcio devido ao fato de fazer o movimento chamado de “aquendar”, ou seja, esconder o pênis, devem prevalecer diariamente. As que se submetem à cirurgia de afirmação notamos um índice que varia entre 5% e 6% de casos de infecção urinária devido a fatores como uretra mais curta e mais próxima ao períneo, aumentando o risco de terem estenose de meato uretral, ou seja, irritação na abertura uretral na extremidade do pênis.

Já nas mulheres transexuais, por estarem mais expostas às infecções sexualmente transmissíveis, apresentam um risco maior e estão sujeitas a qualquer tipo de doença.

Com relação ao aparecimento de um câncer, sobretudo na população transgênero, é importante mencionar as altas taxas hormonais a que estão expostos. Nos homens transexuais, existe um risco maior de desenvolver câncer de mama em comparação a homens cisgênero, porém com menor risco do que mulheres cisgêneros. Da mesma forma, as mulheres transexuais apresentam risco maior de terem um câncer de mama em comparação a homens cisgênero e um risco menor do que mulheres cisgênero.

Já o câncer de próstata, o segundo tipo mais comum entre homens no Brasil – atrás apenas do câncer de pele não melanoma – apesar da incidência da doença ser relativamente baixa na mulher transgênero (0,04%) -, recomenda-se a coleta de sangue, o chamado PSA – Antígeno Prostático Específico. Assim sendo, o indivíduo transexual deve fazer o exame de rastreamento “screening” para câncer de mama e câncer de próstata normalmente e de acordo com a idade.

O impacto das transformações do corpo na mente

Por fim, mas não menos importante, gostaria de citar que temos uma resolução do CFM, a de N°2065/2019, que diz que toda pessoa transexual, que deseja fazer uma intervenção cirúrgica em relação à transição, deve fazer um acompanhamento de, pelo menos, um ano com endocrinologista, pois ao passar por uma terapia hormonal terá uma série de mudanças corporais. Além disso, a norma exige que a pessoa seja acompanhada por um psiquiatra e/ou psicólogo para fazer uma análise sobre a necessidade da cirurgia, bem como a capacidade de entender todas as mudanças que o procedimento irá causar/proporcionar.

Feito isso, após um ano de acompanhamento com esses profissionais, e se for de comum acordo, é emitido um laudo liberando para a cirurgia proposta e este paciente encaminhado para o cirurgião. Notamos que a discriminação e o isolamento destas pessoas são fatores importantes e que não podem ser negligenciados, uma vez que afeta o lado emocional, trazendo transtornos do ponto de vista psicológico.

É importante que os médicos estejam preparados e atentos para essa nova realidade e demanda, acolhendo e esclarecendo todas as dúvidas que surjam nas consultas de modo que o paciente entenda o quão importante é ter a saúde em dia.


*Odair Gomes Paiva é urologista, membro do Departamento de Saúde Sexual e Reprodutiva da SBU-SP, Coordenador da Urologia do Hospital Estadual Mario Covas de Santo André, urologista do Programa de Cirurgias de Afirmação de Gênero do Hospital Estadual Mário Covas.

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