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Reportagem de Capa

Caminhos para a Saúde Integrada

Mudanças necessárias para um sistema mais integrado, sustentável e com acesso qualificado. Para especialistas, é preciso considerar os avanços tecnológicos como aliados na busca por melhorias no setor hospitalar e na ampliação da assistência.

Olhar para os problemas da saúde brasileira pressupõe o enfrentamento de questões estruturais, como a falta de recursos, investimentos tecnológicos, formação de profissionais, padronização de sistemas, entre outros. Para transformar essa realidade, é preciso considerar os avanços tecnológicos como aliados na busca por melhorias no setor hospitalar e na ampliação da assistência, seja em termos de qualidade, seja em oportunidades de acesso.

Sob o tema "Saúde 2022: a mudança que o Brasil precisa", o Conahp (Congresso Nacional de Hospitais Privados) debateu as principais tendências do futuro da saúde no Brasil e no mundo. Investimentos em tecnologia, análise de dados, inteligência artificial e interoperabilidade são algumas das ferramentas apontadas como necessárias para promover um sistema de saúde mais integrado, sustentável e que viabilize o acesso à saúde qualificada para a população brasileira.

A Medicina S/A apresenta os principais pontos debatidos durante o evento realizado pela Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados). Acompanhe a cobertura nas próximas páginas.

Paciente mais conectado 

Como os pacientes e médicos podem ser realmente beneficiados com a tecnologia, estabelecendo um contato mais humanizado e assertivo? Eric Topol, fundador e diretor do Scripps Research Translational, não tem dúvidas sobre o caminho. Para o cardiologista americano, a Inteligência Artificial (IA) é o futuro da medicina.

De acordo com Topol, a tecnologia pode prevenir erros médicos, os quais são cometidos até pelos profissionais mais experientes. Existem fatores que o olho humano não enxerga. “Nos EUA, temos dois milhões de erros em diagnósticos por ano. Uma pessoa vai passar pelo menos uma vez por um erro ao ano.”

Considerando que cada indivíduo tem caraterísticas distintas quanto ao seu genoma, o especialista ressaltou que a IA pode identificar essas diferenças e prevenir doenças de forma mais exata, como o início de um câncer, as mutações originais e anomalias estruturais. Como exemplo, ele citou um estudo realizado com recém-nascidos: “Sequenciando o genoma no momento do nascimento, é possível identificar e prevenir doenças em menos de 20 horas após o parto”. O estudo, realizado nos EUA e Canadá, ainda não é feito em adultos.

Segundo ele, o profissional não consegue realizar tratamentos “curativos” apenas com prontuários tradicionais, além de perder tempo sem conversar com o paciente. Por isso, Topol defende a automação: “Aplicativos de celulares, smartwatch e dispositivos desse tipo poderão levar independência ao paciente por meio de aplicativos já disponíveis, que fazem escaneamento de pressão, humor e atividades cardíacas, além de ultrassom”.

Para sustentar esse “hospital em casa”, o médico citou a pandemia como o início do processo de dar ao paciente as ferramentas para promover cuidados básicos. “A telemedicina 2.0 não vai ser apenas uma conversa por vídeo, mas por troca de informações, sensores em casa, como home care”.

Como resultado, quando uma pessoa visitar o profissional, esse momento será mais duradouro e humanizado, sem que o médico precise escrever prontuários longos em vez de ouvir o paciente. “Nos EUA, uma consulta dura, em média, sete minutos.” O médico não perderá seu papel para a IA, mas se adaptará a ela.

De acordo com Topol, todos têm um celular e uma rede de dados na mão para fazer seus próprios exames e enviá-los para o médico. Talvez essa não seja a realidade brasileira, mas ele considera, de forma otimista, que “a revolução já está acontecendo agora”.

Mudança cultural

Considerar os avanços tecnológicos como aliados na busca por melhorias no setor hospitalar e na ampliação da assistência, em termos de qualidade ou em oportunidades de acesso, está entre os principais focos das organizações de saúde. Karin Cooke, diretora da Kaiser Permanente, aponta a necessidade da promoção de uma verdadeira mudança cultural, tanto nas organizações como na população: “Nós precisamos parar de cuidar da doença e passar a cuidar da saúde. Queremos manter nossos pacientes saudáveis para que eles não necessitem dos hospitais”.

Segundo ela, a tecnologia tem um papel importante no avanço de projetos como plataformas de telemedicina, redução do tempo de internação e promoção à saúde por meio da prevenção. No entanto, é preciso observar o comportamento do paciente e propor mudanças profundas nos modelos de gestão das empresas, a fim de engajar todas as partes em um mesmo objetivo.

A diretora destacou que as inovações partem de uma missão consistente de fornecer tratamentos médicos acessíveis à comunidade, garantindo a sustentabilidade do negócio. Para isso, é necessário integrar hospitais e grupos de médicos, bem como laboratórios, farmácias e outros agentes da saúde, para fornecer a cobertura completa ao paciente.

“Nossos médicos ganham salário fixo. Sendo assim, não recebem mais ou menos conforme o número de atendimentos realizados ou exames solicitados. Não é benéfico para nós, por exemplo, que o paciente fique no hospital por mais tempo do que o necessário”, reitera.

Desenvolvendo estratégias para levar o cuidado para a casa do paciente, reduzindo o tempo de internação e propiciando mais conforto e bem-estar, a empresa criou um modelo que visa projetar a assistência para um cenário futuro, repensando a forma como as pessoas se relacionam com a saúde.

Para Chao Lung Wen, chefe da disciplina de Telemedicina da FMUSP e presidente da ABTms e da CBTms, é necessário que se promova a fusão entre hospitais e expansão da conectividade para o paciente. “Nós temos, no Brasil, uma resolução sobre a telemedicina muito bem construída. O que precisamos fazer é difundir o tema, além de aperfeiçoar a formação de todos os médicos e profissionais da saúde para melhor aproveitar essas ferramentas.”

Ele explicou que a telemedicina engloba uma série de serviços que visam gerar eficiência no processo. Para Wen, os hospitais brasileiros precisam se adaptar a uma nova realidade tecnológica, institucionalizar o serviço conectado do pós-operatório e promover a integração dos atendimentos entre hospitais.

“Se pensarmos em programas de tele-homecare, de multicuidados domiciliares, vamos reduzir tempo de internação, diminuir o desperdício e ampliar a eficiência e sustentabilidade”, completa.

Hub Hospitalar

A fala do especialista é complementada também por Diogo Porto Dias, diretor de operações da Regional Norte na Rede Mater Dei de Saúde. Segundo ele, as empresas de saúde que mais cresceram em 2021 compartilharam a ideia do hospital como um hub.

O especialista explica que os hospitais, como centros que agregam todo o ecossistema da saúde se relacionando com diversos atores e concentrando as maiores estruturas de assistência, precisam evoluir para a promoção de uma efetiva integração entre todos os níveis de cuidado, incluindo atenção primária, secundária, pós-agudo etc.

“Na Mater Dei, temos o projeto de construir produtos em parcerias com as operadoras de saúde, por exemplo, no intuito de promover uma espécie de verticalização virtual do atendimento com foco na atenção primária. Acreditamos que, se formos bem-sucedidos em promover a cultura da prevenção lá no começo do processo, que é antes do paciente adoecer, então todo o resto da cadeia será beneficiada.”

Esse é também o objetivo da Rede D’Or São Luiz. De acordo com Maurício Lopes, vice-presidente executivo da rede, o Brasil ainda enfrenta dificuldades no avanço de estratégias como essas, sobretudo pela cultura “hospitalocêntrica”, que tem na instituição hospitalar a referência do cuidado e da segurança que o paciente busca. “Temos que encontrar uma forma de garantir que todas as frentes do cuidado tenham o incentivo adequado para se comprometer com a evolução do sistema de forma geral.”

“Novo normal” tecnológico

Frequente nas discussões quando o assunto é o futuro, o uso das ferramentas digitais para a gestão na saúde também ganha destaque no cenário atual. Luiza Mattos, sócia da Bain & Company; e Tania Menéndez Hevia, Digital Transformation Officer na Ribera Group, apresentaram alguns caminhos para a implementação da digitalização no atendimento a pacientes e os obstáculos dessa nova realidade.

É unanimidade que os desafios que a pandemia de Covid-19 impôs ao setor de saúde aceleraram as tomadas de decisão quanto à implementação de sistemas digitais. A executiva do Ribera Group relata que, no período, o monitoramento remoto foi muito utilizado por pacientes e médicos de forma eficaz. “Conseguimos prever a utilização de UTIs”, exemplifica Tania, destacando que, com sistemas preditivos, é possível trabalhar com problemas de forma antecipada na gestão dos hospitais.

Ainda de acordo com a executiva, a saúde está sendo alavancada por heathtechs que ajudam na gestão com aplicativos diversos que podem, inclusive, ser usados por gerações menos conectadas. Tania se refere ao monitoramento de doenças crônicas, prevenção da saúde e promoção de bem-estar, estímulo cognitivo para quem sofre com algum dano cerebral ou dietas para oncologia. “Atualmente, essa é a ponta do iceberg, tem muito o que trabalhar.”

A sócia da Bain & Company concorda. Luiza lembra a necessidade de construir competências dentro dos ambientes de saúde para a solidificação dessa transformação digital. Mas entende que, no Brasil, isso está acelerado, principalmente quando se fala em telemedicina ou atendimento a distância, como ela chama, para poder englobar todo o cuidado ao paciente. “Mas precisamos testar cenários. Avaliar a visão de experiência do usuário e colaborador. Há um desafio de integração da cadeia.”

Segundo ela, é necessário saber gerir bem os parceiros e seus custos com um modelo de gestão de produtos e uma visão de saúde populacional. “A solução completa não é apenas clínica, ela deve parar de pé economicamente.”

Exemplos mundiais

A Estônia desponta como a nação mais digital do planeta. Rapahel Fassoni, CEO da Estônia Hub, alerta que as lideranças públicas e privadas precisam se coordenar no Brasil. “Aqui [na Estônia], usamos pessoas, tecnologias e leis. A fórmula foi vontade política, estrutura jurídica – a relação governo/sociedade se dá por meio da lei –, ambientes de negócios amigáveis e favoráveis, proteção de dados e educação.”

Ele reconhece que os problemas financeiros no setor e a cultura sobre a digitalização são gargalos. Mas defende que é preciso olhar para modelos como a Estônia para promover a redução de custos e a geração de receitas, fundamentais na saúde suplementar, aumentando produtividade, eficiência, digitalização e ininterruptabilidade.

Jacson Barros, Strategic Business Development Manager na Amazon Web Services (AWS) e integrante do time do Ministério da Saúde durante a pandemia, destaca que apenas investir financeiramente em planos de digitalização não resolve o problema no país.

Segundo o executivo, existem 48 mil Unidades Básicas de Saúde (UBSs), e apenas 60% delas são informatizadas: “Entenda informatizada como tendo computador, mas sem utilização como informatização detalhada”. De acordo com Barros, é necessário pensar a saúde como uma só. “Hoje, trabalhamos em processos distintos. E quem perde com isso é o paciente.”

Giovanni Cerri, presidente do conselho no Instituto de Radiologia HCFMUSP, ressalta ser necessário que os gestores, sejam eles prefeitos ou governadores, mantenham a continuidade de projetos como política de Estado e com capilaridade para um país continental como o Brasil. Ele alerta que ainda é preciso transpassar um obstáculo: a falta de conectividade em alguns locais, como a Amazônia, onde realizou um projeto piloto e pôde constatar que há aderência aos atendimentos digitais. Mas, sem internet estável, os contatos são interrompidos.

“A saúde digital pode contribuir para a inclusão, a melhoria do atendimento, levar especialistas onde não existem e capacitar os profissionais de forma mais democrática, além de reduzir a desigualdade.” Para Cerri, a digitalização vai muito além da telemedicina e de uma consulta bem-feita: “Deve haver monitoramento de dados para a redução das doenças crônicas e a promoção de vida e hábitos saudáveis”.

Interoperabilidade e gestão de dados

Janneke Timmerman, gerente de programa na Health-RI, apresenta uma iniciativa desenvolvida na Holanda para facilitar uma infraestrutura integrada de dados na área da saúde, com vistas a compartilhar conhecimentos com cidadãos, pesquisadores, profissionais e organizações.

A Heath-RI segue o projeto focando em regiões específicas do país, para que, a partir disso, possa expandir para um hub central, um portal nacional: “Queremos desenvolver um marco de trabalho nacional pensando em questões jurídicas. A ideia é criar uma boa infraestrutura de dados ‘One-Stop Shop’, um lugar único para se encontrar todas as soluções, todas as informações num centro de integração.”

Janneke menciona os obstáculos técnicos, legais e éticos que os holandeses estão enfrentando para tornar o intercâmbio de dados funcional, e enfatiza a necessidade de a comunidade europeia caminhar em conjunto para atingir inovações nesse sentido.

“Depois da criação desse portal, queremos entender ainda mais o nosso sistema de saúde. Queremos ter medicina de precisão, oferecer uma terapia ajustada para cada paciente, para cada caso específico. A medicina está ficando cara, é importante reduzir custos sem perder qualidade. E a utilização de dados de forma eficiente pode ajudar e trazer inovações para o setor”, enfatiza.

Ricardo Campos, diretor do Instituto LGPD, complementa com sua vivência na Alemanha e aponta o fato de a Europa estar caminhando para a construção de um espaço comum de compartilhamento de dados.

“Cada vez que se utiliza dados de pacientes no setor de saúde para diferentes finalidades, ainda temos como problema a falta de um sistema uniforme. Precisamos pensar desde a farmácia e as operadoras até o hospital. O mercado deve abordar um ecossistema de diferentes pontos.”

Rodrigo Gaete, arquiteto de negócios da RNDS no DATASUS, compara com o cenário brasileiro: “O Ministério da Saúde discute muito a saúde digital e como fazer todo o ecossistema funcionar. Como criar uma rede para conectar todos esses dados. No Brasil, estamos avançando nas discussões nos âmbitos nacional e regional. No DATASUS, somos também provocados sobre o âmbito internacional”.

Promoção da Saúde 

Nigel Crisp, membro da Câmara dos Lordes do parlamento britânico, ex-diretor-executivo do NHS e ex-secretário de saúde do Reino Unido, reforça a importância da atenção ao cuidado do paciente para além das portas da clínica. É preciso entender a comunidade, seus anseios e dificuldades, e a correlação de áreas como educação, segurança e natureza como agentes de promoção da saúde.

De acordo com o britânico, a pandemia escancarou problemas em nível global, como a desigualdade no acesso aos tratamentos e às vacinas. A crise também demostrou a união e fluidez no trabalho público e privado. “Mas vimos que precisamos focar nas pessoas e não nos governos”, reiterou o ex-secretário, que afirmou ter uma postura independente no parlamento.

Para ele, a saúde é um assunto que ultrapassa fronteiras, perpassa as comunidades, a sociedade, e desponta para a influência global. “Com esse novo governo eleito no Brasil”, disse, “esperamos ter uma melhora.”

Crisp defende que o cuidado envolva mais do que as doenças e comece na prevenção, por meio do conhecimento das comunidades onde as pessoas habitam, da avaliação compassiva das necessidades locais, e não por imposição de métodos pré-estabelecidos nas salas dos ministérios.

Para exemplificar essa forma de promoção à saúde, que ele chama de holística, citou casos do Reino Unido em que escola, polícia e comunidade pensaram e resolveram juntos seus problemas, como a incidência em áreas mais pobres da depressão perinatal. Com o tempo, explica o britânico, os filhos dessas mulheres estavam na escola e longe da criminalidade. “Os relacionamentos estão acima do sistema”, afirma.

Ele defende que os grandes hospitais podem aprender com os países mais pobres para a promoção de uma saúde centrada no indivíduo, escutando o que a população local tem a dizer.

Para isso, Crisp cita modelos brasileiros que se aproximam da comunidade para promover o cuidado: “Essa ideia está se espalhando”. Mas, dentro das universidades, ele entende que os profissionais do século 21 devem ser esses agentes de mudança. E ainda alerta sobre a artificialidade das tecnologias do futuro: “Lógico que existem as habilidades clínicas, mas deve haver mais espaço para a compaixão e os relacionamentos influenciarem as pessoas, uma mudança dentro da cultura da medicina”.

Comunicação eficiente

Minal Bakhai, diretora nacional de Transformação da Atenção Primária no NHS, avalia que, para além dos avanços tecnológicos, é preciso haver foco na melhoria da comunicação com a população: “Primeiro, temos que criar uma interface de fácil acesso, ampliando o cuidado com a linguagem e com o design da plataforma, a fim de conceber uma experiência mais empática e assertiva, auxiliando a população a evoluir também na forma como procura os serviços de saúde”.

Trazendo o tema para a experiência brasileira, o consultor do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (CONASS) Eugênio Vilaça afirma que os principais desafios serão aumentar a oferta de serviços em municípios de difícil acesso, melhorar a estrutura das unidades do SUS em todas as regiões do país, reduzir o turnover profissional, integrar as tecnologias de autocuidado e fortalecer a cultura de prevenção e promoção da saúde.

O especialista defende ser crucial, no atual momento, que se promova uma revolução na cultura e a integração de todos os sistemas. “A superação da fragmentação e a organização exigem mudanças no modelo de gestão, no modelo de financiamento e no modelo de atenção à saúde.”

A formação dos profissionais de saúde também foi apontada como fator elementar no processo de modernização da atenção básica. “Temos que pensar na educação em toda a sua extensão, inovar a forma como estimulamos e preparamos os jovens em suas formações, nas suas escolhas. Não podemos pensar na saúde sem pensar na formação de nossos profissionais”, ressalta Ana Maria Malik, professora titular da FGV-EAESP.

De encontro à fala de Minal Bakhai, a especialista defende que, além de olhar para a formação profissional, é necessário fortalecer a educação da população. “Os discursos são fáceis de assimilar, mas a prática depende do ser humano, e o ser humano tem um pensamento incontrolável. Temos que conseguir cada vez mais melhorar nossas características e habilidades de comunicação para chegar a todos os públicos, unificando a mensagem da promoção da saúde.”

Excelência e dignidade

Elizabeth Teisberg, diretora-executiva do Value Institute for Health and Care na Dell Medical School e McCombs School of Business da Universidade do Texas, garante que o atendimento de qualidade, baseado nas expectativas do paciente, melhora o resultado do cuidado e a gestão de recursos. “É necessário excelência, respeito, dignidade, e não uma meta a ser alcançada. Cuidado com saúde deveria ser sobre saúde. Mas, na maioria dos casos, não é isso.”

De acordo com a americana, as expectativas dos pacientes quando falam com seus médicos estão desalinhadas com as que falam para seus familiares. “No ambiente clínico, quando doentes ou em fase de cuidado demostram gratidão, agradecem, enquanto que, no ambiente familiar e na sociedade, relatam incapacidades cognitivas, dificuldades para voltar ao trabalho, prejuízos na convivência social e problemas psicológicos.”

Segundo Elizabeth, essa contradição de relatos decorre do tipo de medição realizada pelo próprio setor de saúde, que leva em consideração apenas o desfecho clínico e não a opinião do paciente. Essa conclusão é consequência de um estudo com uma amostra de pacientes que passou por tratamento de câncer de mama, objeto de pesquisa da acadêmica.

Em outro estudo com crianças recém-nascidas no Texas, o tratamento de forma humanizada, equitativo, acessivo e inclusivo proporcionou melhoras, inclusive em bebês que sofriam de condições graves. “Quais serviços são necessários para que essa criança cresça feliz e saudável, e não apenas se salve da morte?”, questiona.

Elizabeth ainda defende que cuidados voltados para o paciente e sua trajetória como um todo, e não apenas na sua experiência clínica, desoneram os hospitais. “Se alguém fizer cirurgia e não se recuperar, é pior para a fonte pagadora, assim como o tempo de permanência. Se a doença não avançar, não será necessário permanecer no hospital”, reitera a americana, num contexto de críticas sobre cuidados mais individuais, longos e com olhar para o paciente.

“Com relação à equidade, precisamos projetar e organizar o cuidado de acordo com as necessidades de cada um, e priorizar quem sofre com as disparidades”, finaliza.

Políticas ESG

A indiana Shweta Narayan, pesquisadora e ativista internacional de clima e saúde da Health Care Without Harm (HCWH), defende que a crise climática global deve ser um assunto central no setor da saúde. Ela aponta o papel dos hospitais como exemplos de construções sustentáveis, em linha com a mitigação dos problemas com o clima.

Shweta alerta para o fato de todos os sistemas ficarem ameaçados no contexto da crise climática, incluindo água, alimento e a própria economia, que, segundo ela, tem que ser pautada pela saúde. “Quando acontece, as pessoas adoecem e isso afeta os hospitais, que não estão preparados para acontecimentos fora da sazonalidade. Por isso, agir de forma proativa e preventiva é o caminho. Acho que temos um chamado para sermos exemplos.”

A ativista sublinha que o setor deve atuar como líder nas pautas do clima nas mesas globais de discussão. No entanto, ela aponta que, sem os próprios colaboradores entenderem os problemas climáticos, eles não podem ser agentes disseminadores de prevenção e de informações confiáveis, baseadas em evidências, como deveriam ser. Shweta menciona que 70 milhões de pessoas vão morrer de estresse climático até o final do século.

Ela ainda faz um alerta para a formação dos profissionais: “Nas faculdades, não temos matérias climáticas. Se não aprendemos isso na formação, a gente não entende isso na realidade. Como podemos ser um multiplicador? A crise climática não é algo do futuro, é cada vez mais frequente”.

A pesquisadora sinaliza como instituições não sustentáveis também podem contribuir para os problemas do clima. De acordo com ela, é urgente o planejamento de hospitais mais sustentáveis, que atuem como exemplos, utilizem energias renováveis como a solar, otimizem a utilização de insumos, comprem alimentos de produtores locais e trabalhem para a diminuição da pegada de carbono. “O sistema de saúde contribui com 5% de emissões de gases carbônicos.”

Shweta é parceira do projeto Hospitais Saudáveis, iniciativa brasileira que lidera o estudo de redução das emissões de carbono nos hospitais e clínicas. “Combustíveis fósseis são um dos principais fatores de problemas climáticos. Ocasionam 13 mortes por minuto.” São 100 instituições de saúde com inventários anuais. “Não é suficiente, mas não é pouca coisa. E o Brasil aparece como exemplo em vários sentidos”, conclui.

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