A comunicação entre profissionais da área médica é essencial para a melhoria do sistema na totalidade, transformando a integração do prontuário eletrônico na melhor maneira de obter todas as informações clínicas do paciente com agilidade. Por isso, a utilização da tecnologia é parte fundamental de uma efetiva revolução na saúde brasileira.
Segundo o TIC Saúde 2019, apenas 31% das instituições de saúde do país enviam e recebem informações clínicas de outros estabelecimentos. Na rede privada, somente 13% dos estabelecimentos possuem um sistema eletrônico com interoperabilidade. Além disso, só 18% disseram possuir sistemas integrados para compartilhar resultados de exames de imagem dos pacientes, por exemplo.
Foi com esta premissa que o Centro de Atenção Integral à Melhor Idade – CAIMI Dr. André Araújo desenvolveu um projeto de transformação digital, que elevou a unidade do zero a 100%. Com mais de 20 anos de existência e 61 mil idosos cadastrados, a unidade, além da zona norte de Manaus, capital do Amazonas, onde está localizado, atende às zonas leste e rural. Em 2023, a unidade passou por uma reforma, mas era preciso ir além de melhorar as instalações e a estrutura física. Faltava conectividade.
A estratégia incluiu a migração de um cenário totalmente de papel para um digital, contemplando toda a infraestrutura e a adoção do prontuário eletrônico. Com o apoio da Salux Technology e seu time de especialistas, criou-se um cadastro único do paciente, no qual é documentada toda a sua jornada na unidade, independente do tipo de assistência ou procedimento que for submetido.
Projeto de transformação digital
Segundo Roberta Carolina Barbosa do Nascimento, diretora do CAIMI Dr. André Araújo, o objetivo era sair de uma modelagem manual e entrar na era da tecnologia, integrando-se mais facilmente aos sistemas de controle do Ministério da Saúde, Controladoria e Ouvidoria. Essa iniciativa tornou-se essencial para atender o público do CAIMI André Araújo, que por seu momento de vida, exige celeridade em todo o processo, do diagnóstico ao tratamento.
Além disso, a informatização permite uma atuação mais próxima com outros órgãos públicos, como a Secretaria e a Delegacia de proteção aos idosos, entre outros. “A informação está mais rápida, disponível e com evidências oficiais. O lado psicossocial também pôde ser melhor trabalhado, é possível agir mais rapidamente e tirar um paciente de uma crise, encaminhá-lo para as oficinas ou mesmo tomar outras providências e tudo fica registrado no sistema”, ressalta a diretora.
Com esse projeto, o Estado do Amazonas, que já tem um atendimento diferenciado no SUS (Sistema Único de Saúde (SUS) e possui unidades de atenção integral voltadas para idosos, conquista uma posição de vanguarda tecnológica.
Benefícios da tecnologia para os pacientes
Graças à transformação digital foi possível reduzir consideravelmente o tempo de espera do paciente em todas as fases do seu tratamento, desde as consultas até os exames diagnósticos. Antes era preciso procurar, separar, colocar em uma pasta e levar até o médico, que registrava tudo manualmente. Hoje os registros são feitos diretamente no prontuário eletrônico do paciente e no SISREG e podem ser acessados, a qualquer momento, em poucos minutos.
O uso da tecnologia também tem aumentado a adesão e garantido a continuidade do tratamento em casa. “90% dos pacientes idosos atendidos na unidade fazem o uso de fralda, suplementos, cadeiras de rodas, remédios de uso e de alto custo e o time de controle de medicação, por exemplo, pedia uma renovação das prescrições a cada 30 dias. Uma nova consulta precisa ser, então, agendada, mas muitas vezes ele não voltava ou mesmo não conseguia uma nova vaga. Esse registro agora é feito direto no prontuário. Isso tudo impacta em mais produtividade para a equipe e no tempo de espera do paciente pela medicação”.
O controle do absenteísmo também emerge como um grande ganho, em especial, por tratar-se de um público com a saúde instável, que costuma ter imprevistos que os impedem de comparecer à consulta. A informatização permitiu ao CAIMI André Araújo reduzir esse índice drasticamente, pois a partir da adoção do prontuário eletrônico e do gerenciamento das agendas foi criado um call center.
Essa estrutura dispensa a necessidade do paciente idoso ir até a unidade de saúde para marcar uma consulta, permitindo que ele faça confirmações ou cancelamentos de forma mais prática e, ainda, que programe todas as próximas consultas antecipadamente.
Já quando o paciente chega ao consultório, além de controlar melhor o seu tempo de espera, com um painel que gerencia as filas, é possível classificar os atendimentos conforme o risco da pessoa. Os encaminhamentos também são baseados nessas prioridades. Todo o time multidisciplinar, incluindo o serviço social, tem acesso a todos os dados dos pacientes, que ficam registrados em um histórico, facilitando a continuidade do tratamento também.
“Fazíamos essa gestão das consultas totalmente manual. Somente um dia antes ou então na hora da consulta ficávamos sabendo se o paciente iria comparecer ou não ao atendimento, no dia e horário agendados. Com essa falta de processo, muitas vezes, de uma agenda de 20 pacientes, apenas dez compareciam. Os demais faltavam, sem avisar. E como isso acontecia em cima da hora, inviabilizava a rápida reposição. Hoje, com novo sistema de gerenciamento de consultas, procedimentos e retornos, quando surge uma vaga é possível já acionar o próximo paciente”, enfatiza Roberta.
O controle de vigilância e de gestão populacional também melhorou. É possível conhecer as doenças crônicas prevalentes, endemias, sazonalidade, e ter estatísticas que permitem trabalhar essa população idosa, concretizando um trabalho de prevenção de saúde. Isso tornará ainda mais efetivo existir uma interface única de informações desde atenção primária (UBS), passando pelas unidades como o CAIMI de média complexidade, e os hospitais de alta complexidade. Esse projeto já está em andamento, de acordo com a diretora, e será um marco histórico na saúde do Amazonas.
A humanização também emerge como uma vantagem da informatização, pois com a diminuição de tarefas burocráticas, as equipes assistencial e administrativa passam a dedicar mais tempo e de melhor qualidade. Além disso, pela agilidade alcançada, tornou-se possível, sem prejudicar o atendimento ao paciente, uma vez por mês, bloquear as agendas para que todo o time foque em estudos dos casos, treinamentos, o que também se reflete em melhorias no serviço prestado.
Do ponto de vista de gestão, além dos aspectos relacionados à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e à segurança da informação, que inclusive será de fundamental importância para o trabalho realizado juntos às redes de proteção, apoio e cuidado, o uso da tecnologia impacta na questão administrativa, financeira e de recursos humanos da unidade. Além da redução de desperdícios, do uso de papel e de gastos, com base nas evidências e nos dados gerados pelo sistema, é possível comprovar mais facilmente a necessidade de novos investimentos.
“Isso tudo significa que a transformação digital é benéfica a todos. Ganha o paciente, que conquista o atendimento que merece; os colaboradores, que passam a ter mais leveza para executar seu trabalho; a unidade, que melhora a sua produtividade; e, claro, o próprio sistema público de saúde, que fica muito mais eficiente e sustentável”, finaliza a Roberta.