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Reportagem de Capa

Mercado global de medicina preventiva deve atingir US$ 485 bilhões até 2033

Com apoio de IA, telessaúde e dispositivos vestíveis, setor aposta em eficiência, redução de custos e maior qualidade de vida para pacientes

O mercado global de medicina preventiva — que engloba tecnologias e serviços voltados para prevenção, detecção precoce e gestão de doenças — deve atingir US$ 485 bilhões até 2033, segundo estudo da iHealthcareAnalyst. O crescimento anual médio projetado é de 9,7%, impulsionado por políticas governamentais de incentivo, maior conscientização da população sobre hábitos saudáveis e pelo aumento do acesso a serviços médicos sofisticados.

Dados do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) indicam que sete em cada dez mortes nos Estados Unidos estão relacionadas a doenças crônicas. Além disso, cerca de metade da população norte-americana já recebeu diagnóstico de alguma condição crônica, incluindo doenças cardíacas, câncer, diabetes, AIDS ou outras enfermidades consideradas preveníveis pela comunidade médica. 

Esse cenário evidencia a importância de ações preventivas e de intervenções precoces, inclusive entre crianças, nos países desenvolvidos, estimulando governos a implementar políticas mais robustas.

O estudo da iHealthcareAnalyst englobou a América do Norte (EUA e Canadá), Europa (Reino Unido, Alemanha, França, Itália, Espanha e demais países da UE), Ásia-Pacífico (Japão, China, Índia e demais países da região), América Latina (Brasil, México e demais países) e outras regiões do mundo.

De acordo com a consultoria, a América do Norte, seguida pela Europa, concentra as maiores participações em receita, favorecida por políticas públicas avançadas, alta conscientização populacional e ampla disponibilidade de serviços médicos de ponta. As demais regiões apresentam significativo potencial de crescimento, sobretudo em mercados emergentes, onde a expansão de tecnologias e serviços preventivos ainda está em desenvolvimento.

Com uma abordagem proativa, a medicina preventiva combina exames de rotina, orientação médica, monitoramento contínuo, imunização, rastreamento precoce e gestão de doenças crônicas. Com o aumento da incidência de doenças cardiovasculares, hipertensão e diabetes, cresce também a adoção de ferramentas de monitoramento preventivo, como check-ups regulares, vacinas adequadas e exames de rastreamento direcionados. Esses instrumentos permitem identificar precocemente condições como depressão, infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), câncer e diabetes, promovendo intervenções mais eficazes.

Novas tecnologias redefinem o futuro da saúde preventiva

Além de melhorar os resultados clínicos, as tecnologias e serviços preventivos ajudam a reduzir os custos de saúde ao longo do tempo, beneficiando pacientes, operadoras e sistemas de saúde. Ao combinar prevenção, monitoramento contínuo e gestão de doenças crônicas, a medicina preventiva não apenas eleva a qualidade de vida, mas também fortalece a sustentabilidade do setor. Dispositivos como monitores de glicemia contínuos, aplicativos de rastreamento de saúde e sistemas de prescrição eletrônica mostram como a inovação está transformando a forma de cuidar da população, permitindo diagnósticos mais rápidos, intervenções precoces e tratamentos mais eficazes.

Entre os avanços que prometem aumentar a eficiência das ações, a iHealthcareAnalyst destaca:

  • Medicamentos personalizados: com base em análises genéticas, os tratamentos são desenvolvidos sob medida, aumentando a eficácia e reduzindo efeitos colaterais.
  • Triagem automatizada: sistemas inteligentes aceleram diagnósticos iniciais e ajudam a priorizar casos urgentes. Espera-se que esse segmento registre a maior taxa de crescimento nos próximos anos.
  • Vacinas profiláticas: novos imunizantes contra Hepatite B, doenças pneumocócicas e rotavírus dominam o mercado de profilaxia, seguidos pelas vacinas contra a gripe. As vacinas meningocócicas devem apresentar o crescimento mais rápido no período de cinco anos.
  • Tecnologias avançadas: sistemas de prescrição eletrônica e de entrada de pedidos computadorizados facilitam o gerenciamento clínico e reduzem erros. A prescrição eletrônica deve crescer mais rápido que os sistemas tradicionais, liderando o avanço tecnológico no setor.
  • Gestão de doenças crônicas: dispositivos de monitoramento contínuo da glicemia dominam o mercado, enquanto sistemas de monitoramento cardíaco, como relógios vestíveis, devem apresentar o crescimento mais acelerado, permitindo intervenções médicas precoces e melhorando a qualidade de vida dos pacientes.

Brasil

Apesar do crescente interesse por medidas preventivas no mundo, o Brasil ainda enfrenta desafios significativos nesse campo. Levantamento do PoderData, realizado para a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) na pesquisa “O que pensam os brasileiros sobre a saúde no Brasil?” (2022), apontou que 71% dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) não incorporam atividades preventivas em sua rotina diária.

Entre os beneficiários de planos de saúde privados, o índice é ainda mais elevado, chegando a 85%. O sedentarismo surge como um dos principais fatores ligados à falta de práticas preventivas.

A expectativa de vida no Brasil deve alcançar 77,8 anos até 2030, segundo projeções do IBGE, mas os anos vividos com saúde não acompanham essa evolução, ampliando a lacuna entre longevidade e vida saudável (também conhecida como lacuna healthspan-lifespan) – a diferença entre o tempo total de vida e o período vivido sem doenças incapacitantes. Essa crescente disparidade coloca em risco a sustentabilidade do sistema de saúde brasileiro. O alerta faz parte do novo estudo do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), que mostra ainda que, no cenário global, essa lacuna já é de 9,6 anos e pode chegar a 16 anos até 2035.

Intitulado “Vivendo mais, mas com mais doenças: análise da lacuna entre longevidade e vida saudável na saúde suplementar”, o trabalho integra a série Caminhos da Saúde Suplementar: Perspectivas 2035, um projeto desenvolvido pelo IESS e que conta com participação e contribuições de especialistas brasileiros do setor de saúde.

O levantamento revela que a obesidade, hoje responsável por quase 10% dos gastos da saúde suplementar, poderá atingir 46% dos beneficiários em 2030, consumindo mais da metade das despesas assistenciais. O custo médio por beneficiário, que era de R$ 2,2 mil em 2020, deve crescer para R$ 3,1 mil em 2030 – alta de 42% em uma década, muito acima do crescimento estimado do PIB per capita (7,7%). Por outro lado, intervenções preventivas poderiam gerar uma economia de até R$ 45 bilhões anuais até 2035.

Para o superintendente executivo do IESS, José Cechin, a economia da saúde suplementar dificilmente resistirá a uma prevalência crescente de obesidade sem que se mude o foco para a prevenção e o cuidado de longo prazo. “A conta simplesmente não fecha. Por isso, temos que adotar iniciativas imediatamente”, sugere.

O estudo indica que a sustentabilidade do setor depende de uma transformação estrutural baseada em quatro pilares: medicina preventiva, inovação tecnológica, cuidado baseado em valor e sustentabilidade sistêmica. Esses elementos incluem desde a incorporação de telessaúde e inteligência artificial até a reorganização dos ambientes urbanos e novas políticas regulatórias.

Cechin acrescenta: “O sistema precisa mudar de lógica, prevalecendo menos volume de procedimentos e mais resultados concretos para os pacientes”. 

Entre 2008 e 2023, os beneficiários da saúde suplementar apresentaram tendências preocupantes: a obesidade subiu de 12,5% para 21,9%; o diabetes, de 5,8% para 9,8%; e a hipertensão se manteve em 26,3%. Além disso, o excesso de peso já atinge 60,9% da população com plano de saúde. Apesar da queda do tabagismo (de 12,4% para 6,8%, no período), o sedentarismo permanece elevado e hábitos alimentares protetores, como o consumo de feijão, vêm diminuindo.

O estudo também chama a atenção para as desigualdades: mulheres concentram 60% dos custos com obesidade e vivem mais anos com morbidade; as diferenças regionais chegam a 6 anos de expectativa de vida saudável nas regiões Sul/Sudeste em comparação com Norte/Nordeste (diferença também observada entre alguns bairros vizinhos de uma mesma cidade); e as mulheres negras estão entre as mais vulneráveis às doenças crônicas e mortalidade materna.

Esses números revelam que o modelo vigente, centrado em episódios e medicina curativa, mostra-se inadequado para o perfil epidemiológico atual. O predomínio da remuneração por procedimento (fee-for-service) perpetua a fragmentação e os altos custos no manejo das doenças crônicas. 

“Se o Brasil não fizer agora a transição para um modelo proativo e baseado em valor, prevenção e promoção de saúde, corremos o risco de repetir a trajetória de países onde a longevidade aumentou, mas a qualidade de vida não acompanhou – e o sistema passou a viver sob a ameaça de entrar em colapso financeiro”, pondera Cechin.

Perspectivas da Saúde Suplementar

O Brasil atingiu em julho de 2025 um patamar inédito de 8,5 milhões de beneficiários com 59 anos ou mais em planos médico-hospitalares, segundo o IESS. O número representa alta de 3,5% em 12 meses, o equivalente a 288 mil novos vínculos, e reflete o processo de envelhecimento do país nas carteiras dos planos de saúde, seja por migração de faixa etária, seja por ingresso de novos idosos no sistema. Para José Cechin, “esse crescimento da população idosa na saúde suplementar coloca um desafio essencial: garantir não apenas mais anos de vida, mas um envelhecimento saudável, com qualidade e autonomia para os beneficiários”.

Após um ciclo de fortes desequilíbrios operacionais entre 2021 e 2023, a saúde suplementar no Brasil deu sinais de recuperação, o que abre espaço econômico para repensar o equilíbrio e a sustentabilidade do setor, conforme revela o estudo especial “Evolução econômico-financeira da saúde suplementar no Brasil”, produzido pelo IESS.

O levantamento analisou o desempenho econômico do setor desde 2018, contemplando o período durante e após a pandemia da covid-19. Todos os valores foram corrigidos pela inflação até março de 2025, garantindo uma análise intertemporal consistente e comparável ao longo dos anos avaliados. 

O lucro líquido das operadoras de planos médico-hospitalares atingiu R$ 6,9 bilhões no 1º trimestre de 2025, registrando crescimento em relação ao período anterior. O resultado operacional, que reflete diretamente a atividade-fim do setor, somou R$ 4,4 bilhões. O resultado do período indica recuperação a partir de bases baixas, fruto do desempenho fraco dos anos anteriores. 

A melhora foi impulsionada por um forte processo de gestão operacional das operadoras, sobretudo com iniciativas de controle de desperdícios, tendo como um dos pontos altos o combate às fraudes, e também pelo contexto macroeconômico, com elevações da taxa Selic. As altas dos juros favoreceram os rendimentos financeiros das operadoras, uma vez que elas são obrigadas por lei a manter níveis elevados de reservas técnicas.

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