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UNIP
A pele: o maior órgão do corpo humano
Por Profa. Dra. Laura de Sena Nogueira Maehara
Entre todos os órgãos do corpo humano, a pele chama a atenção por se expor, por ser a primeira a ser avaliada, por falar com o interlocutor, mesmo que uma conversa não seja iniciada. Composta por diferentes e diversas estruturas, conecta-se ao meio externo e ao meio interno, servindo de interface.
O estudante de Medicina tem o primeiro contato com o corpo do paciente através da pele. Nas aulas de Semiologia, as habilidades de observação começam com o ouvir, seguido do observar com os olhos (Ectoscopia). Assim, um órgão extenso consegue representar todos os outros, apresentando uma visão geral que vai direcionar a próxima avaliação.
Iniciando pelo que é chamado de fácies, ou tipificação da face, o estudante observa como o paciente se apresenta, podendo suspeitar desde afecções no estado mental até síndromes genéticas. Um sorriso irregular pode sugerir alguma alteração no sistema nervoso, assim como pode demonstrar patologias orais. Uma área de falha no couro cabeludo pode significar doenças infecciosas, estados de ansiedade ou uma doença autoimune que pode estar associada a acometimento de outros sistemas.
De maneira craniocaudal, como são orientados a proceder, observam o pescoço, que pode mostrar uma cútis romboidal (pele do pescoço intensamente enrugada) e denunciar anos de intensa exposição solar.
Depois, adentra-se na área coberta, que só será observada se solicitada, com permissão do paciente. No tórax, a ponta do coração visível – ictus cordis – pode denunciar hiperfunção da glândula tireoide ou magreza extrema, que pode estar relacionada também a alterações do estado mental. Múltiplas pintas podem alertar para risco de câncer, tipo melanoma, e múltiplas lesões espessadas do tipo queratose seborreica podem denunciar um câncer no tubo digestivo.
A separação dos ventres do músculo reto abdominal pode sugerir gestação prévia de gêmeos, informação que, certamente, foi coletada anteriormente na história clínica. A presença de manchas brancas na área genital também denuncia autoimunidade e pode se relacionar a dados da história contada ou ainda não contada, além de sugerir fortemente a investigação de doenças da tireoide.
Unhas hipercurvadas sobre dedos largos podem sugerir doenças pulmonares, assim como mãos e lábios azulados apontam para suspeita de doença cardiopulmonar. Infecções comuns em locais incomuns, como micose em uma das mãos ou candidíase em adultos, podem sugerir depressão do sistema imune, seja por doenças hematológicas ou por tratamentos de doenças reumatológicas, dermatológicas ou gastrointestinais.
Dedos dos pés que se apoiam em garra ao chão ou uma maneira específica de caminhar podem sugerir doenças infecciosas como hanseníase ou sífilis, assim como manchas escuras nas pernas – dermatite ocre – podem sugerir longos trabalhos em pé. Outras lesões escuras, porém mais atróficas, podem denunciar diabetes mal controlado.
Quantas informações pela observação visual! E o estudante ainda não encostou no paciente…
Não só extensa, mas intensa, a pele, como o maior órgão do corpo humano, fala, explica, detalha, aponta, sugere, instiga a investigação. O paciente que se apresenta não é um apenas corpo, mas um mundo a ser explorado individualmente em seu contexto, com base científica e considerando suas histórias e seus desejos nesse encontro que apenas se inicia.
*Laura de Sena Nogueira Maehara é médica dermatologista e professora do curso de Medicina da UNIP Campinas.
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