Michele Mello, parceira de Ecossistema de Saúde na Roche Farma Brasil, palestrante da 5ª edição do Global Summit Telemedicine & Digital Health APM, comenta que, no contexto brasileiro, os avanços foram grandes na digitalização do setor, com destaque para a publicação da Estratégia de Saúde Digital 2020-2028 – cuja execução foi alavancada pelas necessidades relacionadas à pandemia de Covid-19, e a criação da Secretaria de Informação e Saúde Digital, do Ministério da Saúde. Porém, as dimensões continentais do País, as iniquidades entre as regiões e outras questões complexas comprometem o aproveitamento máximo dessa estratégia.
“Pensando-se na integração de dados em Saúde, ainda há um longo caminho a seguir, pois existem sistemas espalhados por todos os estados e em muitos municípios do Brasil, o que dificulta este processo”, explica, apontando a infraestrutura digital e o acesso à tecnologia, especialmente em áreas mais remotas, como outros desafios a serem superados.
“Também é fundamental garantir que todos os pacientes, independentemente de sua formação digital, possam acessar e compreender as ferramentas de Saúde Digital”, destaca a especialista.
Jornada do paciente
No Global Summit APM 2023, que a Associação Paulista de Medicina (APM) realizará de 20 a 22 de novembro, no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo, Michele vai participar do Painel Nacional “A Jornada Digital do Paciente” – em que vai abordar a interoperabilidade por linha de cuidado, com base em um case que está em desenvolvimento em uma cidade no sul de Minas Gerais, com a participação da Roche, em conjunto com a Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos de Minas Gerais (Federassantas) e a startup Techtools health.
A proposta é digitalizar a jornada de pacientes do município de Pouso Alegre (MG) com câncer de mama, por meio de um aplicativo que permite aos gestores de Saúde buscar ativamente mulheres que precisam ser reinseridas no ciclo de prevenção, diagnóstico e tratamento.
O aplicativo também é utilizado por gestores do sistema de Saúde, médicos, enfermeiros e demais profissionais do setor, para digitalizar toda a jornada dessas mulheres, incluindo informações que viabilizem a busca ativa por essas pacientes, para evitar atrasos e faltas nos atendimentos.
“Além da prática em si, acho importante observar esse projeto sob o prisma do aprendizado. Para conseguir colocar a iniciativa em operação, percorremos uma longa – e desafiadora – jornada para entender como viabilizar a interoperabilidade de dados no Brasil. Apenas em Pouso Alegre, detectamos mais de dez sistemas e, por meio dessa iniciativa, estamos integrando três deles”, revela a especialista. Ela ainda afirma que esse é o futuro que deseja ao setor.
“Acredito que a indústria e a iniciativa privada têm papel fundamental para acelerar esse processo, por meio de projetos como o Saúde da Mulher, que ajudam a gerar evidências dos caminhos que podem trazer mais sustentabilidade ao nosso sistema de Saúde.”
Integração de dados
Para superar os desafios atuais e permitir que a interoperabilidade de dados seja possível no Brasil, Michele aponta que várias medidas podem ser adotadas. A mais óbvia é a definição de padrões de comunicação e de integração, os quais sejam amplamente aceitos pelo ecossistema da Saúde, permitindo que os sistemas falem a mesma língua e troquem informações de maneira mais eficaz.
Também é importante o estabelecimento de políticas e regulamentações claras e consistentes, que abordem questões de privacidade, segurança e troca de dados entre diferentes entidades.
Para que isso aconteça, a especialista acredita que governos e organizações de Saúde precisam disponibilizar recursos financeiros para investir em infraestrutura de tecnologia da informação, treinamento e atualização de sistemas, reconhecendo os benefícios a longo prazo da interoperabilidade.
“Entendo que parcerias público-privadas podem contribuir bastante para que esse processo seja mais célere e eficaz, especialmente ao promover a colaboração entre fornecedores de sistemas de Saúde, provedores de cuidados e autoridades regulatórias, para garantir que todos os stakeholders estejam alinhados em relação aos objetivos e processos de interoperabilidade”, sugere Michele, alegando que o uso de tecnologias, como blockchain e inteligência artificial, pode ajudar a garantir a segurança e a integridade dos dados trocados, além de facilitar a interpretação das informações por meio de análises avançadas.
A especialista finaliza dizendo que, por isso, estar no Global Summit APM é tão relevante, por ser um espaço de diálogo para que todos os atores do setor possam evoluir em pautas comuns, fundamentais para o desenvolvimento do ecossistema de Saúde Digital do Brasil.
“Nesta oportunidade, vivenciamos um rico intercâmbio de experiências nacionais e internacionais, alavancando o aprendizado e gerando subsídios que podem ajudar a acelerar esse processo. Além disso, acredito que a colaboração deve ser a regra na área de Saúde e o evento nos ajuda a ampliar essa possibilidade. Entendo que precisamos manter e potencializar os aprendizados e as conquistas dos setores público e privado e acreditar no valor compartilhado entre empresas e Estado”, conclui Michele.