Organizado pela Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML), o congresso reuniu mais de 4 mil participantes em 200 palestras nacionais e internacionais para debaterem as perspectivas e tendências da área de laboratórios clínicos.
Telelaboratório já é uma realidade?
Se a telemedicina foi impulsionada durante a pandemia da Covid-19 e consolidada no pós-pandemia, o mesmo movimento tem sido verificado no ambiente laboratorial. De acordo com Alvaro Pulchinelli, vice-presidente da SBPC/ML, o telelaboratório já é uma realidade, visto que muitos profissionais e pacientes descobriram as vantagens de realizar atendimentos, controlar processos a distância e ter acesso à saúde por esse meio.
“Na verdade, o telelaboratório não é algo novo. Durante a pandemia, seu papel se tornou ainda mais evidente e fundamental. Com isso, cresce muito em importância, pois, com a regulamentação e a popularização desses conceitos, amplia o leque de opções e horizontes dessas atividades médicas”, explica.
Com o avanço, Pulchinelli cita questões que devem ser discutidas. A primeira é: como isso funcionará, partindo do ponto de vista ético ou da segurança da informação? Até que ponto podemos atuar ou não com o telelaboratório? Como será a interação com outras especialidades, outros médicos, com os pacientes e entre um laboratório e outro?
“São várias vertentes a serem pensadas. É um serviço que deve ser regulamentado e remunerado adequadamente. Estamos acompanhando as regulamentações do Conselho Federal de Medicina (CFM) e, ao mesmo tempo, estamos pensando como será essa remuneração para o Patologista Clínico. Isso será dissolvido no custo do exame? Poderá ser feito à parte, como uma consulta médica tradicional? Ainda não chegamos a um denominador comum, aguardamos o mercado como um todo se posicionar para termos um balizamento dessas questões”, explica Pulchinelli.
Para Carlos Ballarati, cofundador do Instituto para Inovação em Saúde (I2H) e ex-presidente da SBPC/ML, é nesse ambiente, onde a realidade virtual e o metaverso se misturam, que a medicina vai atuar cada vez mais intensamente. “Abre-se um mundo com infinitas possibilidades. Esse ambiente permite uma atuação mais inteligente e mais rápida dos profissionais e vai proporcionar treinamentos em várias áreas. Treinamento em cirurgias robóticas, em telemedicina, para citar algumas. Também acredito em novas possibilidades em saúde mental, como o estudo de psicotrópicos. É um novo passo na era da internet.”
Inteligência Artificial
O Laboratório de Leucemia de Munique (MLL) é uma das instituições mais promissoras na utilização das novas tecnologias na medicina diagnóstica. Por meio de automação, computação em nuvem, inteligência artificial e diagnóstico molecular de última geração, o MLL pode processar dados do genoma do paciente em 3 horas – um grande avanço em relação aos 13 anos necessários para mapear o primeiro genoma humano.
“A missão do MLL, hoje, é melhorar o atendimento de pacientes com leucemia e linfoma por meio de diagnósticos de ponta. Para fazer isso, o laboratório usa uma abordagem interdisciplinar que combina seis disciplinas – citomorfologia, imunofenotipagem, análise cromossômica, hibridização in situ por fluorescência (FISH), genética molecular e bioinformática –, resultando em um relatório abrangente de laboratório integrado”, explica Wolfgang Kern, um dos fundadores da empresa.
Nos 15 anos desde a sua abertura, o MLL processou mais de 750.000 amostras de configurações em todo o mundo. O número de funcionários cresceu de apenas 29 para mais de 200.
De acordo com Kern, através do “controle de pedidos”, evita-se diagnósticos desnecessários e desperdício de tempo e dinheiro, tornando todo o processo mais rápido e barato. Quando uma amostra chega ao MLL, ela entra em um mundo de extensa automação e digitalização. “Ela é adicionada ao banco de dados, depois rotulada com um código de barras exclusivo para o sangue ou a medula óssea de cada paciente, e, finalmente, encaminhada para lise celular para amplificação. Em seguida, os robôs dividem as amostras em porções iguais e as colocam em frascos rotulados com códigos de barras. Esses frascos são congelados em grandes unidades de refrigeração. Na manhã seguinte, o robô recupera automaticamente esses frascos para análises adicionais em um formato de placa de 96 poços”, destaca.
Outras máquinas preparam o DNA e outro conjunto de dispositivos prepara as amostras para as máquinas de sequenciamento. O código de barras atribuído a cada amostra pode ser lido em todas as estações de trabalho e dispositivos no laboratório. O banco de dados do laboratório é atualizado automaticamente à medida que a amostra é transferida entre a equipe e o equipamento, permitindo que qualquer pessoa que consulte as descobertas sobre a amostra receba as informações mais recentes. “Todas as amostras podem ser rastreadas a cada segundo através de cada máquina e cada técnico.”
Depois que o sequenciamento é concluído e as novas informações são inseridas no banco de dados do laboratório, um sistema automatizado define as próximas etapas para processamento, medição, avaliação e diagnóstico.
No futuro, as técnicas moleculares serão os métodos mais importantes para nos ajudar a capturar todas essas informações. Hoje, o diagnóstico genético se baseia na citogenética e na análise de mutações. Em breve, o MLL fará mais sequenciamento do genoma e do transcriptoma completo. A perspectiva é incluir o perfil de expressão gênica nos diagnósticos, podendo até capturar características que agora são determinadas por imunofenotipagem e citomorfologia.
Armazenamento de Dados
Computação mais poderosa e capacidade de dados ilimitada por meio do armazenamento em nuvem ajudaram o laboratório a acelerar sua pesquisa: os técnicos podem trabalhar com até 18 pacientes por execução de todo o genoma e o laboratório executa até 150 genomas por semana.
O MLL tem mais de 3 pentabytes de dados dos genomas e transcriptomas retirados de mais de 5.000 casos que estão completamente caracterizados, e podem olhar para trás para ver como o sequenciamento do genoma pode adicionar mais informações ou apoiar as informações obtidas com as técnicas de rotina utilizadas. Além disso, são usadas ferramentas de computação em nuvem e inteligência artificial para atingir esses objetivos de pesquisa. Os resultados são publicados em revistas internacionais revisadas por pares e apresentados em conferências médicas e eventos científicos.
Em citogenética, por exemplo, o MLL desenvolveu um algoritmo baseado em inteligência artificial (IA) para realizar cariotipagem, em vez de ter um morfologista revisando as metáfases manualmente. A IA também foi incorporada em ensaios piloto em imunofenotipagem e citomorfologia, onde a classificação das células é feita com base na IA.
A tecnologia mais importante usada para agilizar o fluxo de trabalho no MLL é seu sistema proprietário de informações e gerenciamento de laboratório (LIMS). O sistema está em constante atualização e tem quatro rollouts por dia, ou seja, quando um técnico vem trabalhar em um determinado dia, ele não estará usando a versão LIMS do dia anterior.
Kern observa que cerca de 50% das máquinas do MLL são organizadas pelo sistema LIMS. A maioria dos dispositivos no laboratório é interconectada por meio de sensores, software e outras tecnologias, economizando tempo e minimizando o risco de erro humano. “São credenciados de acordo com os mais altos padrões da Europa: ISO 15189 e 17025. Queremos estar sempre na vanguarda”, conclui.
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