Nos últimos 12 meses – de julho de 2021 a junho de 2022 – o HCor registrou 31.500 utilizações da ferramenta de decisão clínica, número bastante expressivo considerando que o hospital tem cerca de 2.400 médicos no corpo clínico e quatro programas de residência que contemplam, a cada ano, em torno de 40 residentes médicos. Nesse período, os maiores usuários das ferramentas foram os médicos assistentes (47%), seguidos dos residentes (25%) e dos profissionais de farmácia (14%). Os cinco temas mais buscados no último ano foram basicamente relacionados à Covid-19, uma doença nova, com protocolos atualizados a todo momento.
É inimaginável que um médico do pronto-socorro ou de uma Unidade de Terapia Intensiva saiba, hoje, na ponta da língua, o conteúdo do último artigo publicado num periódico de grande impacto e que acaba de mudar a conduta em relação a um paciente com coronavírus, por exemplo.
“A velocidade do conhecimento médico foi bastante acelerada nos últimos 24 meses e a necessidade de suporte tecnológico para atualização constante dos profissionais de saúde se tornou ainda mais importante” – Dr. Kevin Kim, Gerente de Educação e Projetos Médicos Estratégicos do HCor
É improdutivo que alunos percam tempo procurando filigranas nos guidelines e protocolos, memorizando todas as doses, todas as fórmulas, como a do cálculo da função renal, que ficou entre os temas mais buscados. As plataformas de conhecimento existem para suprir essa demanda, facilitando o momento da prescrição de um antibiótico, por exemplo, mantendo o profissional da linha de frente atualizado e para que possamos nos concentrar em aprender e sofisticar o raciocínio clínico.
Basta fazer uma revisão de literatura sobre essas ferramentas para comprovar como elas melhoram a qualidade assistencial em diversos contextos da medicina, como setores de urgência e emergência, unidades de terapia intensiva, linhas de cuidado em oncologia e, agora, contribuíram na pandemia, sendo intensamente utilizadas. Este é um ponto pacífico.
Se sabemos que a diferença é abissal entre quem tem a possibilidade de utilizar esses recursos e quem não tem, um dos nossos grandes desafios é conseguir que eles cheguem à imensa maioria de instituições brasileiras. Infelizmente o que existe, hoje, são categorias e subcategorias de assistência, devido à falta de acesso a todas as plataformas de conhecimento, aos dispositivos, às tecnologias, enfim, que conseguem processar e hierarquizar a quantidade gigantesca de dados que os profissionais de saúde precisam lidar.
O Hospital Moinhos de Vento, assim como o HCor, procura levar o máximo do que consegue criar para o SUS através do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde, PROADI-SUS, por exemplo – programa de filantropia em que os hospitais de excelência compartilham suas tecnologias e projetos. É fundamental encontrar caminhos desse tipo para que as plataformas organizadas e estruturadas de conhecimento possam chegar a um número maior de instituições e de pessoas.
“Se sabemos que a diferença é abissal entre quem tem a possibilidade de utilizar esses recursos e quem não tem, um dos nossos grandes desafios é conseguir que eles cheguem à imensa maioria de instituições brasileiras” – Vitor Ferreira, Presidente da ABCIS e Gerente de TI do Hospital Moinhos de Vento.
No HCor, ainda lidamos com a dificuldade de fornecer as ferramentas de forma mais prática, fácil e eficiente para ajudar o médico a obter informação rápida e confiável, no momento do cuidado ao paciente.
No Moinhos de Vento, podemos comprovar, hoje, que o tempo que o médico passa em frente à tela do computador é um indicativo de que ainda não chegamos na interface adequada. Há estudos que indicam que a evolução definitiva virá com o sistema de reconhecimento de voz. A ver. Ainda há muito trabalho a ser feito.
A interoperabilidade de sistemas é um dos passos, já em prática no Hcor. A integração relativamente recente das ferramentas de suporte de decisão clínica ao Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP) é uma forma de consulta rápida à informação baseada em evidências e de mitigação de erros – se o médico liberar um medicamento com duplicidade de princípio ativo, por exemplo, a base alerta. Além disso, o profissional de saúde não precisa mais ficar constrangido, ter que sair de uma sala para tirar uma dúvida básica de conhecimento. Não dependemos mais de um cadastro manual feito pela equipe de farmácia. Essas plataformas contam com curadoria especializada e atualização constante.
O alinhamento dos processos de tecnologia, dos profissionais da assistência, do administrativo, todo um caminho avaliado previamente à implementação de um prontuário com as bases de conhecimento integradas permite que tenhamos melhores tomadas de decisão e mais qualidade no cuidado, fortalecendo a segurança também para o profissional, pacientes e a cultura da instituição.
É claro que este é um processo contínuo e questões surgem ao longo da jornada. Como garantir que a linha de cuidado iniciada no pronto-socorro chegue íntegra, sem ruídos na comunicação através dos sistemas, até a internação? Ou da internação até a UTI? No HCor, temos trabalhado para desenvolver uma série de mecanismos dentro do PEP para sanar tanto essa, como outras “dores” que o corpo clínico traz para a superintendência médica e para a equipe de Tecnologia da Informação (TI), questões que envolvem configurações, sistemas e processos assistenciais.
Isto porque o prontuário com a base de conhecimento integrada, por si só, não funciona. O médico pode ter a melhor ferramenta do mundo, mas se não tivermos um processo adequado que requer mapeamento prévio com a participação dele, no momento da prescrição a ferramenta não vai atender ao que ele precisa. Temos um cuidado muito grande no envolvimento da equipe assistencial na criação dos processos. Ao mesmo tempo, o profissional de TI não quer mais só imputar dados, só registrar.
“O profissional de tecnologia que trabalha em hospital também é um profissional de saúde porque qualquer atividade, qualquer parametrização, qualquer item que ele altere dentro do prontuário, impacta o paciente” – Alex Vieira, Vice-presidente da ABCIS e CIO – Superintendente de TI, Inovação e Transformação Digital do HCor.
Temos investido nesse trabalho a quatro mãos no HCor, na corresponsabilidade do time assistencial e da TI dentro do processo de transformação digital. E se uma falha de sistema pode comprometer gravemente o estado de saúde de um paciente, precisamos então de seis mãos, dividindo responsabilidades, também, com os fornecedores das bases de conhecimento, visto que os sistemas influenciam e melhoram, cada vez mais, a tomada de decisão médica.
Um exemplo do papel de protagonismo da TI no Hospital Moinhos de Vento é a categorização da indisponibilidade do sistema em cada área do hospital, afinal, meia hora sem sistema no almoxarifado é bem diferente de cinco minutos de indisponibilidade na emergência. Temos sido extremamente rigorosos com os impactos derivados dessas instabilidades. Ao conseguir pontuar categorias diferentes de impacto e possíveis riscos para os pacientes, desenvolvemos planos de contingência mais eficientes, não aquele plano exclusivo da TI, mas aquele que envolve todos os profissionais. Eles sabem o que fazer quando recebem um comunicado de indisponibilidade na rede. É um bom indicador que deriva desse exercício de qualidade e segurança do paciente a que todos nós estamos dedicados.
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* Kevin Kim é Gerente de Educação e Projetos Médicos Estratégicos do HCor.
* Alex Vieira é Vice-presidente da ABCIS e CIO – Superintendente de TI, Inovação e Transformação Digital do HCor.
* Vitor Ferreira é Presidente da ABCIS e Gerente de TI do Hospital Moinhos de Vento.