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Saúde Digital

Aplicativo de celular pode antecipar diagnóstico de Alzheimer

O oftalmologista Paulo Schor explica que a tecnologia analisa movimentos sutis da pupila para identificar doenças neurológicas de forma precoce

O Brasil vive um processo acelerado de envelhecimento da população, e com isso cresce também o desafio do Alzheimer. Hoje, cerca de 8,5% da população com mais de 60 anos convive com algum tipo de demência — são aproximadamente 2 milhões de casos em todo o país.

Estudos conduzidos pela USP e divulgados neste ano apontam que 54% dos casos de demência estão na América Latina, com grande concentração no Brasil. Projeções indicam que, até 2050, o número de pessoas vivendo com demência no país pode ultrapassar 5 milhões. Um dos maiores desafios é, sem dúvida, o diagnóstico de Alzheimer.

Tecnologia como aliada no diagnóstico

Nesse cenário, a tecnologia surge como um instrumento poderoso. Pesquisadores da USP estão desenvolvendo um aplicativo capaz de identificar sinais de Alzheimer a partir de uma selfie do olho. “O olho é a janela da alma. A retina pode refletir camadas de processamento do cérebro, funcionando como um espelho de alterações neurológicas”, explica o professor da Unifesp e oftalmologista Paulo Schor, pesquisador da cátedra de Inovação e Saúde Pública do InovaHC.

Segundo ele, a análise feita pela inteligência artificial permite perceber padrões invisíveis: “Os olhos da máquina veem coisas que os olhos humanos não veem. A tecnologia consegue agrupar milhares de dados e identificar relações sutis, algo impossível para nós”, afirma.

Biomarcadores oculares: um campo promissor

Os biomarcadores oculares já são utilizados há décadas em diagnósticos de doenças sistêmicas, como diabetes e hipertensão. O fundo de olho de um paciente diabético ou hipertenso apresenta alterações características, visíveis no exame clínico. Com apoio da inteligência artificial, porém, é possível avançar ainda mais. Experimentos internacionais mostraram que, a partir da análise do fundo de olho, máquinas já foram capazes de identificar até mesmo o sexo de uma pessoa — algo imperceptível ao médico. Schor explica que isso ocorreu num experimento clássico do Google junto ao Moorfields Eye Hospital, em Londres. “A máquina foi capaz de detectar, olhando no fundo de olho, quem era homem, quem era mulher. E isso para a gente é impossível, a gente não enxerga nada disso. Mas, com muitos dados, os marcadores para o olho humano agora conseguem ser mapeados e trabalhados mesmo de forma sutil.”

“Alterações como Alzheimer ou mesmo transtorno de déficit de atenção podem ser detectadas na retina, e já temos respostas laboratoriais relativamente positivas”, acrescenta Schor. O aplicativo em desenvolvimento analisa o movimento da pupila, que se contrai ou dilata conforme estímulos do sistema nervoso.

Próximos passos da pesquisa

O desafio agora é ampliar os testes em diferentes contextos e equipamentos. “Precisamos avaliar mais pacientes, usar outros modelos de celular e câmeras. Depois, buscar apoio de universidades, hospitais ou fundos de investimento para viabilizar o uso clínico da tecnologia”, destaca o pesquisador.

Enquanto isso, os números reforçam a urgência do tema. Apenas no primeiro trimestre de 2025, o SUS registrou mais de 7 milhões de atendimentos ambulatoriais relacionados ao Alzheimer e 576 internações hospitalares. A expectativa é que soluções inovadoras como essa ajudem não apenas no diagnóstico precoce, mas também no planejamento de políticas públicas para enfrentar a crescente carga que o Alzheimer representa na sociedade brasileira.

Com informações do Jornal da USP | Sandra Capomaccio

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