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Medicina S/A: A Dasa tem investido no conceito de cuidados integrados. Como isso tem funcionado na prática e quais os principais benefícios para pacientes, profissionais e setores público e privado?
Leonardo Vedolin: Para responder à sua pergunta, primeiro, precisamos entender a mudança em andamento no paradigma da saúde como historicamente conhecemos, que é reativo e transacional. Esse modelo, chamado de fee for service, valoriza o tratamento complexo e a resolução das urgências, o que demanda a solicitação de mais exames, consultas e internações.
Na Dasa, estamos protagonizando uma mudança de lógica no setor, com base em uma proposta de valor que tem as pessoas no centro do cuidado e uma jornada de saúde que integra e engaja. Para isso, oferecemos nossa ampla rede de laboratórios e hospitais, assim como fazemos uma gestão de saúde que usa tecnologia e inteligência de dados como ferramentas em prol da prevenção e predição, com agilidade, eficiência, sustentabilidade e geração de valor em toda a cadeia.
Medicina S/A: Quais foram os principais investimentos realizados para que esse conceito fosse de fato adotado na empresa?
Leonardo Vedolin: Desde 2018, investimos na criação do maior data lake privado do setor de saúde, que dispõe hoje de cerca de 6,8 bilhões de dados, mais de 60% deles interoperáveis. Para a Dasa, o dado tem valor, uma vez que é usado como informação e promove maior aproximação e engajamento com pacientes e médicos. Também criamos o Núcleo de Operação e Controle (NOC). Inspirado no mercado de aviação, o NOC gera indicadores que auxiliam nas tomadas de decisões para melhorar a experiência do paciente, antecipando soluções de forma rápida e eficiente, além de otimizar os processos de gestão da operação de hospitais e diagnósticos.
Não posso deixar de falar das ações de inovação, tanto abertas como fechadas. Internamente, temos squads trabalhando em soluções de inteligência artificial, data analytics, genômica, metaverso e outros projetos. Além disso, desenvolvemos um trabalho intenso de parcerias com startups, trazendo novos talentos para nosso ecossistema e impulsionando a inovação em saúde.
Medicina S/A: Nesse cenário, qual a importância do uso de dados para uma medicina mais personalizada?
Leonardo Vedolin: Dados são fundamentais. A Dasa, de maneira proativa, monitora via data analytics os gaps de rastreio e de cuidado, ou seja, exames importantes para diagnósticos precoces que deixam de ser feitos, e alerta os usuários sobre a importância de retomá-los, evitando a evolução de uma possível condição de saúde para formas mais graves ou suas complicações.
Esse time de data analytics promove análises constantemente, tornando a Dasa um poderoso hub de informação em saúde, com uma medicina humanizada e, ao mesmo tempo, apoiada em tecnologia de dados. Utilizamos protocolos específicos e multicanalidade para acessar os pacientes e acompanhá-los na sua jornada de cuidado, diminuindo os riscos de complicações. Dessa forma, o uso de dados impacta positivamente em nossa eficiência, excelência e desfecho. Isso traz benefícios também para a sustentabilidade do negócio e do setor.
Quando falamos de cuidado coordenado, por exemplo, os dados e a tecnologia têm nos auxiliado a obter resultados assistenciais bastante positivos, como o controle de diabéticos com doença descompensada, a redução do tempo médio de tratamento de neoplasias e a assertividade na resolução de eventos clínicos em domicílio, evitando internação desnecessária.
Medicina S/A: A interoperabilidade ainda é o principal desafio?
Leonardo Vedolin: Hoje, existe uma ampla consciência de que a tecnologia e a prática médica baseada em dados vão transformar o setor de saúde. Esse é um ótimo começo para fazer uma transformação que é digital e também cultural, mudando inclusive as estruturas das organizações, tanto públicas como privadas. E a interoperabilidade, certamente, é um dos principais desafios.
Mas costumo apontar outros temas importantes no horizonte, como o necessário e constante investimento em experiência, para aprimorar a jornada do usuário, procurando fidelizar e ampliar a sua rotina de cuidados e o hábito do uso das novas tecnologias e wearables. Acredito que as diversas legislações para o setor também são pontos fundamentais, como a regulamentação definitiva da telemedicina no ano passado.
Medicina S/A: É possível falar em uma medicina mais preditiva?
Leonardo Vedolin: Sem dúvida, estamos avançando cada vez mais nessa direção, com ferramentas que possibilitam uma relação mais próxima, humanizada e assertiva dos médicos com os pacientes, em uma abordagem preditiva. A partir do uso de algoritmos, podemos alertar os especialistas sobre o acompanhamento de pessoas com doenças crônicas para evitar o agravamento da doença. Na Dasa, usamos escores preditivos em genômica para diagnóstico e prognóstico de tumores. Além disto, estamos escalando modelos de inteligência artificial em gestão de saúde populacional, eficiência de processos e ganhos de produtividade no trabalho do corpo clínico, para permitir que nossos médicos passem mais tempo em trabalhos assistenciais e menos em tarefas burocráticas. O caminho é longo, mas os primeiros resultados são muito promissores.
Medicina S/A: Na área de medicina diagnóstica, quais as principais mudanças?
Leonardo Vedolin: Nossa plataforma de saúde, o Nav, é uma das grandes mudanças neste cenário. Ele integra os dados, exames realizados e seus resultados, assim como utiliza recursos avançados de análise para acompanhar integralmente a jornada de cuidado do usuário. Pelo painel médico, nosso corpo clínico pode acompanhar a carteira de pacientes e saber quais estão em gap de cuidado. Dessa forma, tanto o paciente quanto o médico (que usa uma versão específica da plataforma, o Nav Pro) têm acesso aos exames e informações essenciais para um eventual tratamento. Hoje temos 6,4 milhões de usuários cadastrados na plataforma, e o acesso aos produtos no Nav aumentou significativamente, comparando o último trimestre de 2021 com o mesmo período do ano passado. Isso mostra o engajamento cada vez maior do usuário.
Além dos algoritmos que mencionei antes, a Dasa desenvolve modelos de processamento de linguagem natural para detectar 43 doenças que precisam de acompanhamento. O que isso significa? Na prática, os algoritmos fazem a leitura de 8 mil laudos, em média, por dia. Quando identificam determinados padrões que indicam algum risco (inclusive de doenças que não eram alvo da investigação), nossa equipe entra em contato com o médico solicitante, diminuindo o tempo necessário para concluir o diagnóstico.
Medicina S/A: É possível que esses benefícios se estendam para a saúde pública? Em caso positivo, de que forma?
Leonardo Vedolin: A incorporação de novas tecnologias e o aprendizado que existe no setor privado também têm ocorrido no setor público. Acredito que muitos desses avanços serão integrados às práticas operacionais e assistenciais, e que a interoperabilidade entre os setores traria muitos avanços ao sistema de saúde do Brasil. Esse desafio não é trivial, mas tem o potencial de evitar desperdícios e, consequentemente, disponibilizar mais recursos para o sistema, incrementando o acesso e a saúde dos brasileiros.
Medicina S/A: Esse modelo traz impactos financeiros para a Dasa?
Leonardo Vedolin: O cuidado sustentável que propomos traz impactos positivos para a Dasa e para todo o setor de saúde. Essa evolução envolve uma mudança cultural, operacional e financeira perene de toda a cadeia, reduzindo desperdícios e melhorando o desfecho clínico. É difícil imaginar outro caminho a seguir, especialmente num contexto nacional de inflação médica cronicamente elevada. A coordenação do cuidado aliada à medicina preventiva e preditiva, através de tecnologias e humanização, é a resposta que o setor precisa para enfrentar esse cenário.
Medicina S/A: A Dasa escolheu o Google como parceiro para transformação digital. O que envolve a parceria?
Leonardo Vedolin: Essa parceria reforça o nosso propósito de promover uma saúde mais digital, personalizada, conveniente, centrada nas pessoas, e que será possibilitada por meio da análise de dados e inteligência artificial. O Google já era nosso parceiro desde a construção do data lake e, agora, vai acelerar o processo de transformação digital, tanto na dimensão da nuvem, como no Nav, quanto em soluções de data analytics.
Na parceria com o Google Cloud, vamos ampliar ainda mais o uso das tecnologias de IA e análise de dados em diagnósticos, desenvolver novas funcionalidades e melhorias para o Nav, além de potencializar nossa cultura de inovação.
Medicina S/A: Diante de tantas tecnologias, como IA, robótica, telemedicina etc., como manter um atendimento humanizado? Qual o principal desafio para profissionais e gestores de saúde?
Leonardo Vedolin: É necessário pensar na experiência completa do usuário, que permita uma jornada cada vez mais integrada e a melhor experiência possível. Cada vez mais pessoas estão usando a tecnologia e percebendo que é possível cuidar da saúde de forma híbrida. Por isso, atendimentos de telemedicina, integração de sistemas com dados do paciente e outras inovações têm transformado o setor ao proporcionar uma experiência phygital: que busca não ser fragmentada e episódica, mas com foco na jornada integrada.
Ao mesmo tempo, os benefícios dessas novas ferramentas permitem que os profissionais de saúde se dediquem ainda mais ao atendimento “olho no olho”, ou seja, qualifica o tempo clínico dos profissionais da área.
Medicina S/A: Para finalizar, em que estágio o Brasil está hoje em relação à medicina preditiva e personalizada? Quais os avanços ainda são necessários, e quais são as principais tendências?
Leonardo Vedolin: Os avanços estão sendo percebidos há alguns anos, mas a velocidade aumentou significativamente após a pandemia. O caminho ainda é longo, mas muitas entregas já aconteceram, especialmente na clareza da importância do uso de dados, na visão de jornada da saúde e na personalização do cuidado. No futuro, é possível imaginar que, a partir de um teste diagnóstico ou escore clínico, poderemos avaliar o risco de dezenas de enfermidades. E essas predições serão muito mais precisas e rápidas, e abarcarão um conjunto maior de patologias. E há também o papel da genômica. Em algumas décadas, editaremos genes no DNA para alterar a resposta imunológica do corpo a certas doenças ou criaremos tratamentos produzidos especificamente para a nossa codificação genética, como vemos em alguns tratamentos oncológicos. É o que começamos a fazer na Dasa Genômica, nosso braço de genômica focado em medicina de precisão e personalizada.