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ENDOCRINOLOGIA

Estudo sugere uma nova definição de obesidade metabólica

Será agora possível identificar os pacientes sob maior risco?

Dr. Carlos Eduardo Pompilio, KOL de Clínica Médica da Pupilla, plataforma de educação médica gratuita de e-learning especializada em medicina, comenta o estudo "An Empirically Derived Definition of Metabolically Healthy Obesity Based on Risk of Cardiovascular and Total Mortality".

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Não há clínico atuante em consultório ou ambulatório que não tenha um paciente “gordinho” cujos exames laboratoriais se apresentem surpreendentemente dentro da faixa considerada normal. A figura do obeso saudável vem sendo cada vez mais debatida e estudada muito em função da pandemia de obesidade e diabetes em que vivemos atualmente. Além disso, definir e identificar tais indivíduos têm grande impacto nas políticas de saúde pública, bem como no direcionamento de recursos para educação e prevenção de doenças. Mas afinal, o obeso metabolicamente estável existe ou não?

O conceito de obesidade metabolicamente saudável (MHO, na sigla em inglês) trata dos indivíduos com índice de massa corpórea (IMC) maior que 30, sem evidência de doença cardiometabólica. Mas o problema aqui são as definições de “doença cardiometabólica”.

Há inúmeros critérios que levam em consideração a pressão arterial, o metabolismo da glicose, o perfil lipídico, medidas de cintura abdominal e relação cintura-quadril (RCQ), o IMC, a presença de marcadores inflamatórios e diversos outros parâmetros clínico-laboratoriais. Até o momento, não existe um padrão universalmente aceito para definir MHO e mais de 30 definições diferentes foram usadas para identificar tais fenótipos em estudos sobre o tema.

Este grande número de abordagens diferentes pode explicar por que a prevalência, estabilidade e resultados clínicos de MHO são inconsistentes e isso contribui para que a controvérsia permaneça. Pensando nisso, os autores do estudo “An Empirically Derived Definition of Metabolically Healthy Obesity Based on Risk of Cardiovascular and Total Mortality”, publicado em maio de 2021 na JAMA Network Open, buscam criar uma nova definição de MHO que tenha um poder discriminatório maior para desfechos cardiovasculares que as definições correntes.

Para isso, foram utilizados dois grandes bancos de dados – NHANES III (National Health and Nutrition Examination Survey, EUA) e UK Biobank (Reino Unido), buscando identificar os fatores com maior valor preditivo de desfechos cardiovasculares, utilizando abordagens sistemáticas para identificar parâmetros antropométricos e metabólicos com pontos de corte clinicamente relevantes e que pudessem predizer desfechos cardiovasculares em indivíduos obesos.

A conclusão foi de que a MHO foi melhor definida pela presença concomitante dos seguintes critérios:

1) pressão arterial sistólica menor que 130 mmHg sem uso de medicação anti-hipertensiva,

2) relação cintura-quadril (RCQ) menor que 0,95 (mulheres) e que 1,03 (homens), e

3) ausência de diabetes tipo 2

De acordo com esta nova definição, 41,2% dos participantes com obesidade no NHANES-III e 19,3% no Biobank foram considerados metabolicamente saudáveis. MHO não foi associada à mortalidade por doença cardiovascular (DCV) nem à mortalidade por causas gerais no NHANES-III.

É importante lembrar que esse estudo não avaliou pessoas com IMC maior ou igual a 40. Os resultados do estudo e a nova definição de MHO, portanto, podem não ser generalizáveis para desfechos cardiovasculares neste grupo.

Referências
http://dx.doi.org/10.1001/jamanetworkopen.2021.8505

Carlos Eduardo Pompilio

Médico formado pela Universidade de São Paulo, com residência em Clínica Médica e doutorado em Anatomia Patológica pela USP. Médico assistente do Departamento de Clínica Médica, Disciplina da Clínica Geral do Hospital das Clínicas da FMUSP. Coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisa em Literatura, Narrativa e Medicina (GENAM) da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

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