O avanço da demanda por exames também se refletiu no mercado de trabalho. A medicina diagnóstica passou a responder por 11,1% das vagas de emprego na área da saúde. Em 2024, o setor registrou saldo positivo de 9,1 mil novos postos de trabalho — número quatro vezes superior ao observado em 2023 —, alcançando um total de 307 mil empregados.
Os laboratórios clínicos concentram o maior contingente de profissionais, com 144,7 mil trabalhadores. Na sequência aparecem os serviços de diagnóstico por imagem com uso de radiação ionizante, exceto tomografia, que empregam 50,2 mil pessoas, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego.
O relatório aponta tendência de crescimento contínuo do mercado de trabalho, impulsionada por fatores epidemiológicos, como o envelhecimento da população e o aumento das doenças crônicas, além de avanços tecnológicos e maior acesso aos serviços de saúde.
Parque de equipamentos
O parque de equipamentos de diagnóstico por imagem no país cresceu entre 2023 e 2024, passando de 247,8 mil para 293,3 mil unidades — expansão de 9,9% no período. Os tomógrafos computadorizados registraram a maior alta entre os equipamentos, com crescimento de 13,2%, indo de 212 para 240 aparelhos nas empresas associadas.
Os equipamentos de ultrassonografia seguem como os mais presentes nas instituições, representando quase metade (46,1%) do total de aparelhos de imagem. Também houve aumento no número de mamógrafos, que passaram de 351 para 373 unidades, e de aparelhos PET/CT, que cresceram de 26 para 29.
Em 2024, as associadas à Abramed contavam com 2.173 aparelhos de ultrassom, 543 equipamentos de ressonância magnética, 240 tomógrafos computadorizados e 373 mamógrafos.
No mesmo ano, o Brasil possuía 39,3 mil estabelecimentos que oferecem serviços de diagnóstico por imagem, o que garante ao segmento a maior presença geográfica dentro do setor de saúde. As empresas associadas à Abramed operavam 530 centrais de imagem, a segunda maior concentração de estabelecimentos, atrás apenas dos postos de coleta.

Faixa de 70 a 79 anos lidera demanda
O crescimento dos exames de imagem acompanha as mudanças demográficas do país. O envelhecimento da população brasileira tem ampliado a prevalência de doenças crônicas não transmissíveis, como enfermidades cardiovasculares e câncer.
Essas condições demandam cuidados prolongados, o que eleva a necessidade de exames como tomografias, ressonâncias magnéticas e ultrassonografias para o monitoramento de patologias crônicas, segundo o Painel Abramed. O relatório também destaca a importância do diálogo com o paciente e das explicações sobre cada procedimento, como forma de fortalecer a confiança no tratamento e humanizar o atendimento.
Em 2024, a população com 60 anos ou mais representava 16,6% dos habitantes do país. A projeção é que esse percentual ultrapasse 30% até 2050, conforme dados citados no relatório. Os grupos etários a partir de 60 anos, que correspondem a cerca de 16% da população, responderam por aproximadamente 19,7% do total de procedimentos realizados no Sistema Único de Saúde.
O número de procedimentos diagnósticos por habitante cresce de forma acentuada a partir da faixa etária de 50 a 54 anos, com os picos de demanda concentrados entre pessoas de 70 a 79 anos.
Tendências e oportunidades
A crescente demanda por serviços voltados a uma população cada vez mais envelhecida tem acelerado a adoção de tecnologias digitais em diferentes frentes de cuidado.
A telemedicina, por exemplo, amplia o acesso a especialistas, enquanto aplicativos e plataformas digitais de saúde permitem o monitoramento contínuo de condições crônicas, favorecendo intervenções precoces e um gerenciamento mais eficiente dos cuidados. Sistemas de saúde integrados também ganham relevância ao oferecer soluções de acompanhamento contínuo, gestão de dados, personalização da assistência e conexão entre os níveis primário, secundário e terciário de atenção. Essa integração facilita a troca de informações, melhora a coordenação dos tratamentos e contribui para a redução de internações e a otimização dos recursos disponíveis.
Nesse contexto, o uso de inteligência artificial (IA) e a análise de big data despontam como vetores de transformação na forma como os serviços de saúde são planejados e gerenciados. Algoritmos de IA já são utilizados na análise de grandes volumes de dados clínicos, possibilitando diagnósticos mais precisos e a identificação precoce de doenças. Sistemas baseados em IA, por exemplo, conseguem detectar sinais de câncer em imagens radiológicas com alta acurácia.
A análise de dados em larga escala também viabiliza o desenvolvimento de terapias personalizadas, que consideram as características individuais de cada paciente, aumentando a eficácia dos tratamentos e reduzindo efeitos colaterais. Além disso, a identificação de padrões e tendências contribui para a previsão de surtos epidemiológicos, permitindo respostas mais rápidas e eficazes por parte dos sistemas de saúde.

Laboratórios e diagnóstico in vitro (IVD)
No segmento de laboratórios, a automação e a alta produtividade se destacam como tendências centrais. O uso de equipamentos totalmente automatizados reduz custos e amplia a capacidade de processamento de amostras, aspecto essencial para absorver o aumento do volume de exames decorrente do envelhecimento populacional.
A incorporação de novos biomarcadores e testes moleculares, como PCR e sequenciamento genético, para a detecção precoce de câncer e doenças genéticas, também abre espaço para a atuação de players especializados. Já a maior longevidade da população impulsiona a demanda por equipamentos de alta complexidade, como tomografias, ressonâncias magnéticas e ultrassonografias, ampliando as oportunidades para fabricantes e distribuidores desses aparelhos.
Genômica e medicina de precisão
A genômica e a medicina de precisão ganham impulso com iniciativas como o Programa Genomas Brasil, que prevê alto investimento do governo federal na criação de um banco com 100 mil genomas e no fomento à indústria nacional de genômica. Nesse cenário, empresas que oferecem testes personalizados, incluindo painéis genéticos voltados para câncer, cardiopatias e doenças raras, tendem a ocupar posição estratégica para atender à crescente demanda por diagnósticos de precisão.
Saúde digital e inteligência artificial
Na área de saúde digital, a telemedicina diagnóstica avança com plataformas que permitem a emissão de laudos remotos e a oferta de segunda opinião on-line, especialmente relevantes em regiões com infraestrutura limitada. Paralelamente, soluções de IA baseadas em machine learning auxiliam a interpretação de exames de imagem e laudos laboratoriais, reduzindo erros e o tempo de resposta.
Serviços domiciliares e point-of-care
Os serviços domiciliares também ganham protagonismo. Laboratórios que oferecem coleta de sangue e exames básicos na residência do paciente tornam-se mais atrativos para idosos com mobilidade reduzida. Os testes rápidos point-of-care (POC), realizados próximos ao paciente (como os voltados ao monitoramento de glicemia e coagulação), atendem a um público sênior que busca maior autonomia no cuidado com a saúde.
Parcerias público-privadas
As parcerias público-privadas (PPPs) surgem como alternativa para suprir lacunas do Sistema Único de Saúde (SUS), especialmente na realização de exames de alta complexidade, gerando contratos de longo prazo e maior previsibilidade de receita. Modelos de shared services, com laboratórios centrais atendendo redes de hospitais filantrópicos ou municipais, também contribuem para a otimização de recursos e a redução de custos operacionais.
Diante desse cenário, a adaptação torna-se imperativa. A prevenção e a promoção da saúde assumem papel central, com o objetivo de adiar o surgimento de doenças e garantir uma velhice mais saudável. A tecnologia se consolida como aliada ao otimizar o atendimento e reduzir custos, enquanto a colaboração entre os setores público e privado se intensifica em busca de soluções inovadoras para o financiamento e a gestão da saúde.

Inteligência artificial e o futuro dos laboratórios clínicos
Os debates realizados durante o 57º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (CBPC/ML) evidenciaram um setor em profunda transformação, impulsionado por tecnologia, integração de dados, novos modelos de negócio e pelo desafio de ampliar o acesso ao diagnóstico. Temas como inteligência artificial, medicina de precisão, vigilância genômica, segurança do paciente, sustentabilidade dos laboratórios, políticas públicas e investimentos estratégicos marcaram as discussões.
A inteligência artificial já faz parte da rotina de diferentes setores e desponta como um dos principais vetores de transformação dos laboratórios clínicos. O tema foi abordado por Deniz Ilhan Topcu, médico turco e especialista em medicina laboratorial, ao discutir impactos, aplicações e limites da tecnologia no contexto laboratorial.
Segundo Topcu, a reflexão sobre a IA envolve simultaneamente presente e futuro. “Trata-se de uma visão de futuro, um exercício de previsão sobre o que pode acontecer em 50 anos. Na verdade, estamos vivendo agora o que foi previsto há cerca de 50 anos – e, de certa forma, isso ocorreu simultaneamente de forma natural e artificial. Eu acredito que já temos exemplos claros hoje: com ferramentas como GPTs e Gemini, estamos melhorando nosso trabalho com esses recursos.”
O especialista explicou como a IA pode ampliar a eficiência dos laboratórios, especialmente nas fases pré-analítica e pós-analítica, sem ignorar as limitações atuais da tecnologia. “Apenas 3% dos dados gerados hoje em hospitais e laboratórios são efetivamente processados. Esse é um número muito limitado. Nosso objetivo deve ser ampliar essa capacidade para melhorar o funcionamento dos laboratórios e os resultados para os pacientes.”
Ao detalhar a construção de modelos de aprendizado de máquina, Topcu ressaltou a importância da definição clara do problema antes da adoção da tecnologia: “Antes de aplicar IA, precisamos ter clareza absoluta sobre o problema. Muitas vezes, vejo pessoas querendo usar a IA em tudo, mas nem sempre essa é a melhor solução. O primeiro passo é definir com objetividade se realmente precisamos de IA ou ML”.
Além da otimização de processos, a IA pode contribuir para maior consistência e segurança dos resultados laboratoriais. “Os computadores podem lidar com volumes muito maiores de dados, em alta velocidade e com mais eficiência. A IA revela padrões que nós, humanos, não conseguimos enxergar, e isso pode apoiar médicos, profissionais de laboratório, gestores e pacientes em decisões clínicas mais assertivas”, explicou.
Entre as aplicações práticas, o especialista citou controle de qualidade, diagnóstico, predição de risco, cálculo de intervalos de referência e sistemas de autoverificação, além do papel estratégico dos laboratórios como fontes e curadores de dados e desenvolvedores de modelos próprios.
Apesar dos avanços, Topcu alertou para desafios como explicabilidade, vieses e questões éticas. “A IA em saúde precisa ser transparente, segura, justa e responsável. É fundamental proteger a autonomia do paciente, garantir diversidade nos conjuntos de dados e calibrar algoritmos de acordo com a população local”, reforçou.
Ao concluir, destacou a importância da formação profissional nesse novo cenário: “O mais importante é que não devemos temer a IA, mas sim entendê-la e incluí-la na formação de futuros médicos e profissionais de laboratório”.
Cobertura completa do 57º CBPC/ML em:
https://noticias.sbpc.org.br