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Cenário

Novas tendências da educação em saúde

Os impactos da tecnologia no ensino médico: realidade virtual, IA e plataformas de aprendizado digital ganham protagonismo

A educação em saúde tem passado por uma transformação significativa nos últimos anos. O avanço tecnológico e a necessidade crescente de atualização constante para profissionais da área impulsionaram novas metodologias e ferramentas de ensino. Essas mudanças afetam desde a formação inicial em faculdades de medicina e enfermagem até a educação continuada de médicos, gestores hospitalares e demais profissionais da área. Nesse cenário, soluções inovadoras como realidade virtual, inteligência artificial e plataformas de aprendizado digital ganham protagonismo, garantindo um ensino mais acessível, personalizado e eficiente.

Simulações e realidade virtual

A utilização de simulações e realidade virtual (RV) na educação médica representa uma das inovações mais promissoras. Essa tecnologia permite que alunos e profissionais pratiquem procedimentos complexos em um ambiente controlado, reduzindo riscos para os pacientes e aumentando a precisão no treinamento. Modelos tridimensionais interativos possibilitam a exploração detalhada da anatomia humana, enquanto softwares de simulação cirúrgica oferecem treinamento prático em procedimentos minimamente invasivos e emergências médicas.

Hospitais e universidades ao redor do mundo já adotam essa abordagem. Um exemplo é o Case Western Reserve University, nos Estados Unidos, que utiliza RV para ensinar anatomia sem necessidade de cadáveres. Além disso, empresas como a Osso VR e a Touch Surgery desenvolvem plataformas de simulação cirúrgica que permitem que médicos pratiquem técnicas antes de aplicá-las em pacientes reais.

Realidade aumentada

A realidade aumentada (RA) vem sendo amplamente adotada no ensino médico, proporcionando um aprendizado mais interativo ao sobrepor informações visuais em tempo real. Com dispositivos como o Microsoft HoloLens, estudantes e profissionais podem visualizar modelos tridimensionais de órgãos e tecidos, facilitando a compreensão da anatomia humana e auxiliando na realização de procedimentos cirúrgicos.

Inteligência artificial

A inteligência artificial (IA) tem revolucionado a forma como o conhecimento é transmitido e assimilado na área da saúde. Algoritmos de IA são capazes de personalizar o aprendizado, adaptando o conteúdo às necessidades individuais dos alunos. Ferramentas de tutoria baseadas em IA oferecem feedback instantâneo, ajudando estudantes e profissionais a corrigirem erros rapidamente.

Além disso, sistemas de IA são utilizados para simular diagnósticos médicos, permitindo que estudantes pratiquem o raciocínio clínico e tomem decisões baseadas em dados reais. Chatbots e assistentes virtuais também auxiliam no aprendizado, respondendo dúvidas em tempo real e fornecendo recomendações de conteúdos complementares.

Diogo Camillo, coordenador da pós-graduação em Design de Serviços e Inovação em Saúde do Einstein, explica que é preciso preparar profissionais com uma visão crítica e holística, capacitando-os a aprimorar fluxos, interações e inovações em sistemas de saúde complexos e emergenciais.

“Acreditamos que, com a aceleração da transformação digital e o impacto da inteligência artificial, o sistema de saúde está cada vez mais em busca de especialistas que compreendam a experiência do usuário e também saibam lidar com os desafios regulatórios, operacionais, tecnológicos e estratégicos que moldam o setor”, destaca.

Plataformas de aprendizado online

A digitalização do ensino trouxe uma ampla oferta de plataformas especializadas na educação médica. Coursera, edX, Udemy e outras oferecem cursos ministrados por universidades renomadas, permitindo que profissionais da saúde atualizem seus conhecimentos de forma flexível e acessível.

Além dessas plataformas, há soluções específicas para a área médica, como o Medscape, que oferece educação médica continuada, e o UpToDate, que fornece informações clínicas atualizadas para tomada de decisão. A combinação de videoaulas, artigos interativos e casos clínicos faz dessas plataformas um recurso para médicos e estudantes.

Aprendizagem baseada em problemas

O modelo de aprendizagem baseada em problemas (problem-based learning – PBL) tem sido amplamente adotado nas faculdades de medicina. Em vez de aulas expositivas tradicionais, o PBL propõe que os alunos resolvam problemas clínicos reais em pequenos grupos, estimulando o pensamento crítico, a colaboração e a autonomia no aprendizado.

Pesquisas indicam que esse método melhora a retenção de conhecimento e a capacidade de tomada de decisão dos estudantes. Instituições como a Harvard Medical School e a McMaster University já adotam essa abordagem há anos, demonstrando resultados positivos na formação de profissionais mais preparados para desafios reais da prática médica.

Impressão 3D

A impressão 3D vem revolucionando o treinamento médico ao permitir a criação de modelos anatômicos detalhados para estudo e simulação de procedimentos cirúrgicos. Esses modelos oferecem um aprendizado prático mais acessível e seguro, sendo utilizados em universidades e hospitais ao redor do mundo.

Gamificação na educação em saúde

A gamificação, que utiliza elementos de jogos no ensino, tem se mostrado eficaz na educação médica. Plataformas como Kahoot!, Qstream e Body Interact utilizam quizzes, desafios e simulações interativas para tornar o aprendizado mais dinâmico e envolvente.

A utilização de jogos digitais permite que estudantes e profissionais pratiquem tomada de decisão clínica em cenários simulados, além de reforçar o aprendizado por meio da repetição e com feedback imediato. Estudos mostram que essa abordagem melhora a retenção do conhecimento e aumenta a motivação dos participantes.

Para Sergio Ricardo Santos, founder da Valor e Saúde, plataforma de educação para profissionais da área com foco na transformação digital, a educação continuada está se reinventando, impulsionada pelas possibilidades que a tecnologia oferece.

“Os novos modelos educacionais não apenas entregam conteúdo, mas criam experiências. Simulações em realidade virtual, laboratórios online e fóruns de discussão colaborativos aproximam o aprendizado da prática clínica e fomentam a troca de ideias entre profissionais. Essa interatividade é essencial para tornar o aprendizado relevante e conectado às necessidades do dia a dia”, destaca o médico que uniu a experiência no mercado corporativo de saúde, onde já ocupou cargos de liderança em players como a Amil, da qual foi CEO, e na Dasa, em que foi vice-presidente, ao universo acadêmico, idealizando a plataforma.

Para o executivo, a gamificação introduz elementos semelhantes aos dos jogos, como competição saudável, recompensas instantâneas e storytelling, criando experiências de aprendizado mais envolventes. “Simulações clínicas em 3D e realidade aumentada também vêm ganhando espaço, aproximando o ensino da prática real e tornando o aprendizado mais intuitivo.”

Liderando a inovação

Grandes universidades e centros médicos têm liderado a inovação na educação médica. A Mayo Clinic, por exemplo, integra inteligência artificial e aprendizado digital em seus programas de treinamento, enquanto a Stanford University explora o uso da realidade virtual em seus cursos de anatomia e cirurgia.

Além disso, o Imperial College London implementou um programa baseado em simulações para treinar profissionais de saúde em habilidades clínicas e de comunicação, garantindo um ensino mais realista e eficiente.

Parcerias entre universidades e indústria

Parcerias entre instituições acadêmicas e empresas de tecnologia impulsionam a inovação na educação médica. Colaborações entre universidades e startups permitem o desenvolvimento de novas plataformas de aprendizado, enquanto empresas farmacêuticas investem em treinamentos imersivos para médicos e pesquisadores.

Um exemplo é a parceria entre a Microsoft e a Cleveland Clinic, que utiliza realidade mista para aprimorar o ensino de anatomia e procedimentos cirúrgicos. Essas colaborações demonstram como a integração entre academia e setor privado pode acelerar avanços na educação em saúde.

O Google e a Mayo Clinic colaboram em inteligência artificial para aprimorar diagnósticos médicos e auxiliar no treinamento de profissionais. A IA ajuda a interpretar exames e otimizar a aprendizagem com dados clínicos reais.

A Harvard Medical School tem projetos conjuntos com a Apple para desenvolver tecnologias de monitoramento da saúde e aprendizado baseado em dados de dispositivos vestíveis (como o Apple Watch).

Brasil

Para trazer os avanços da tecnologia em realidade virtual para a operação médico-hospitalar, o Sírio-Libanês, por meio da sua vertical de tecnologia Alma Sírio-Libanês, conta com o apoio da Microsoft no uso do HoloLens 2, óculos de realidade mista. O hospital está avaliando diferentes possibilidades de uso dessa tecnologia e já iniciou algumas provas de conceito com o dispositivo, que proporciona uma experiência imersiva ao combinar o mundo físico com o digital, beneficiando o planejamento e a execução de procedimentos, acelerando fluxos, reduzindo erros e melhorando o relacionamento com o paciente.  

 “A realidade mista tem o potencial de revolucionar a assistência médica, proporcionando visualização aprimorada de dados, treinamento e educação inovadores, colaboração facilitada entre profissionais de saúde e engajamento do paciente,” considera Diego Aristides, chief technology officer da Alma Sírio-Libanês.

Barreiras à Adoção de Tecnologias Emergentes

Para Denise Priolli, diretora acadêmica de medicina da Cogna Educação, a formação médica no Brasil enfrenta uma série de desafios que demandam atenção e ações estratégicas a fim de assegurar a qualidade e a eficácia do ensino na área. Esses desafios abrangem desde questões estruturais e infraestruturais até aspectos relacionados à gestão acadêmica, currículos, métodos de ensino e adequação às demandas da prática médica moderna.

Apesar das vantagens, a implementação de novas tecnologias na educação em saúde enfrenta desafios. Custos elevados, resistência à mudança e infraestrutura inadequada são algumas das barreiras que dificultam a adoção de soluções inovadoras.

“É essencial que os currículos médicos sejam atualizados para incluir o ensino dessas novas tecnologias e abordagens terapêuticas, preparando os estudantes para a prática clínica contemporânea”, ressalta Denise.

De acordo com a diretora acadêmica, há preocupações éticas sobre o uso de inteligência artificial no ensino médico, especialmente no que diz respeito à privacidade dos dados e à segurança da informação. Garantir que essas tecnologias sejam regulamentadas e aplicadas de maneira responsável será fundamental para seu sucesso.

“A implementação da IA na formação médica no Brasil enfrenta ainda desafios. Um deles é a infraestrutura tecnológica necessária para suportar essas aplicações. É necessário estabelecer diretrizes claras sobre o uso da IA na formação médica, garantindo transparência, responsabilidade e equidade no acesso às tecnologias, para que seu uso propicie todo o potencial que dela se espera”, destaca.

Futuro da educação em saúde

O futuro da educação médica será cada vez mais digital e interativo. Com o avanço das tecnologias imersivas, a inteligência artificial e a personalização do aprendizado, espera-se que a formação de profissionais se torne mais eficiente e acessível.

A longo prazo, a educação contínua baseada em análise de dados e aprendizado adaptativo poderá garantir que médicos e outros profissionais estejam sempre atualizados, melhorando a qualidade da assistência prestada aos pacientes.

As tendências da educação em saúde apontam para um cenário onde a tecnologia desempenha um papel fundamental na formação e na capacitação dos profissionais. Simulações, inteligência artificial, plataformas digitais e novas metodologias de ensino estão transformando a forma como o conhecimento é adquirido e aplicado na prática médica.

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