Em entrevista à Medicina S/A, Guilherme Soarez, CEO da Inspirali, reflete sobre os principais marcos da trajetória da instituição, as competências essenciais para os médicos do futuro e o equilíbrio entre tecnologia e cuidado humanizado na formação médica.
Medicina S/A: Como surgiu a Inspirali?
Guilherme Soarez: A Inspirali nasceu em 2019 a partir das escolas de medicina da Ânima Educação, que é um dos principais ecossistemas de educação do Brasil, com 21 anos de atuação. Iniciamos com dois cursos de medicina e hoje, após 5 anos, estamos com 15 cursos de medicina e 12 mil estudantes em diversas regiões do Brasil. O nosso propósito é inspirar o amor pela vida por meio de uma educação médica transformadora, centrada no cuidado integral da saúde das pessoas.
Medicina S/A: Como você define o papel da Inspirali no cenário da educação médica no Brasil?
Guilherme Soarez: Atualmente, vivenciamos no Brasil o Complexo Econômico Industrial da Saúde (CEIS) 4.0. Nesse contexto, nós nos deparamos com 4 subsistemas que se relacionam e interagem entre si: o subsistema de biotecnologia e base química (indústria farmacêutica); o subsistema de base mecânica, eletrônica e de materiais (indústria de equipamentos pesados e dispositivos portáteis); o subsistema de informação e conectividade; e o subsistema de serviços (clínicas, hospitais, laboratórios etc.). O papel da Inspirali é atuar dentro desse complexo através da formação contínua e com excelência de médicos preparados e orientados a exercer o seu papel de agentes transformadores, criar ou adquirir tecnologias para que a interação entre os subsistemas aconteça com o menor atrito e a maior eficácia possíveis, e, por último, causar um impacto positivo no mundo atuando sobre as tendências em doenças e problemas crônicos oriundos das crises mundiais que vivenciamos.
Medicina S/A: Quais inovações estão gerando o maior impacto na formação dos futuros profissionais de saúde?
Guilherme Soarez: O nosso papel é oferecer aprendizado ao longo da vida do médico, na graduação, na preparação para a residência e na educação médica continuada, pois buscamos formar profissionais necessários para atuar no complexo econômico-industrial da saúde 4.0. As inovações estão presentes tanto nas interações dos subsistemas quanto nos cursos de formação médica.
Na graduação, por exemplo, o nosso aluno se beneficia desde o primeiro semestre com a aprendizagem digital ativa e tecnologias avançadas de ensino. Ele tem contato com imagens reais em 3D do corpo humano, explorando cada estrutura e isolando órgãos e sistemas. Temos softwares de simulações de consulta em realidade virtual, permitindo que o aluno passe por todas as fases de atendimento e entenda o seu desempenho para conseguir definir pontos de melhoria. O laminário virtual é um microscópio virtual que oferece uma experiência imersiva e interativa, possibilitando aos estudantes explorarem mais de 280 lâminas de histologia, patologia e embriologia. Também adquirimos a Medroom, ferramenta que traz uma nova dimensão à educação em saúde com um dos mais completos modelos do corpo humano em 3D do mundo. Com isso, utilizamos inovação e tecnologia abrangendo os três pilares da educação médica: anatomia, fisiologia e raciocínio clínico.
Medicina S/A: Quais são as principais competências que os médicos do futuro precisarão desenvolver, e como a Inspirali está preparando seus alunos para isso?
Guilherme Soarez: Aliados a tecnologias de ponta, os médicos do futuro precisarão desenvolver competência técnica e acuracidade no diagnóstico dos problemas de maior prevalência na população. Suas decisões serão ainda mais baseadas em evidências científicas, mas, acima de tudo, eles terão responsabilidade médica pelos seus pacientes. O médico precisará exercer pensamento crítico, ser reflexivo e desenvolver terapias com foco na segurança do paciente. Falamos sobre a necessidade de ele ter uma visão integral e integradora do cuidado em saúde com o pensamento holístico, nutrindo empatia e compaixão pela condição de seus pacientes.
A Inspirali prepara seus alunos desde o primeiro semestre com aulas práticas e uso intenso de soluções de tecnologia que auxiliarão os alunos nesse processo. A metodologia de ensino é baseada no entendimento de que o aluno precisa estar exposto a inúmeras situações médicas e saber tratá-las da maneira mais eficiente possível. Por isso, ele inicia sua jornada com situações-problema e vai construindo teses até aprender na prática nas unidades de saúde da família. Na graduação, ele também pratica a medicina nas nossas Clínicas Integradas de Saúde (CIS), que prestam atendimento a pacientes do SUS. A combinação de teoria, prática e tecnologia ao longo dos nossos cursos de graduação é intensa e constitui a base do nosso sucesso curricular. Acreditamos na responsabilidade social em busca da defesa da vida e da preservação do planeta.
Medicina S/A: Quais parcerias e colaborações a Inspirali tem desenvolvido para garantir que seus alunos estejam preparados para os desafios práticos da medicina?
Guilherme Soarez: Práticas Médicas no SUS (PMSUS) é uma disciplina que oferece uma experiência única, integrando teoria e prática no ambiente do Sistema Único de Saúde (SUS). Sob supervisão, os nossos estudantes participam de grupos de estudo e colaboram com equipes multiprofissionais da Secretaria de Saúde do município. Essa oportunidade permite o trabalho em conjunto com diferentes profissionais, proporcionando aprendizado e ajudando aqueles que precisam. Nossos futuros médicos têm a chance de praticar em locais comunitários, em parceria com programas Saúde da Família, UPAs e hospitais. As atividades desenvolvidas são de grande importância para as pessoas atendidas e essenciais para fortalecer a relação entre ensino e serviço.
Além disso, oferecemos aos nossos alunos a oportunidade de ter uma educação continuada. Para isso, temos alguns parceiros que nos dão o suporte necessário para atender de forma qualificada essa demanda. Contamos com o IBCMED, a MEDPOS e diversos parceiros que acreditam no potencial do constante aperfeiçoamento na área médica. Essas parcerias são essenciais para proporcionar uma formação robusta e atualizada. Também trabalhamos com a Dasa Educa, o São Paulo Futebol Clube e o Hospital Mater Dei, entre outros. Já para as residências médicas, mantemos parcerias com os municípios por meio das nossas escolas médicas.
Medicina S/A: Quais são os principais marcos desde a criação da Inspirali?
Guilherme Soarez: O marco tem sido a própria jornada de amadurecimento da Inspirali nesses 5 anos. Um destaque que gostaria de dar é a nossa parceria com o Sistema Único de Saúde em todas as nossas escolas. Os nossos estudantes estão envolvidos com as UBSs desde o primeiro semestre. A partir do Sistema Único de Saúde existem diversas formas para se oferecer aprendizado prático para os nossos estudantes. Também temos as Clínicas Integradas de Saúde, que recebem pessoas encaminhadas pelo agendamento de consultas através das prefeituras. Os pacientes são atendidos pelos nossos estudantes, sempre acompanhados por seus professores. Acreditamos que esse modelo mais abrangente permite ao estudante ter uma gama de experiências mais completas na sua formação.
Medicina S/A: Como você vê o equilíbrio entre o uso de tecnologia e a manutenção da humanização no ensino e na prática médica?
Guilherme Soarez: Essas novas gerações já nasceram muito conectadas às tecnologias e nós buscamos sempre apresentar o que há de mais moderno e útil para a aprendizagem do aluno. Por outro lado, paradoxalmente, quanto mais tecnológico, mais humanizado precisa ser. A máquina pode ajudar no diagnóstico, mas nunca acolherá emocionalmente um paciente enfermo. Esse outro lado, mais empático, os nossos alunos têm a oportunidade de vivenciar nos atendimentos nas clínicas, nos hospitais, nas UBSs e nas Missões Humanitárias. Essas Missões têm o objetivo de levar qualidade de vida para moradores de regiões isoladas e proporcionar uma experiência humanitária para futuros médicos. A Missão Amazônia 9, por exemplo, dará continuidade ao atendimento e à assistência para moradores das comunidades ribeirinhas, além de fazer um mapeamento de suas principais enfermidades locais. Em parceria com o SUS, a ação presta atenção primária à saúde e analisa a situação e as condições de vida da população local, identificando riscos, vulnerabilidades e potencialidades para que seja possível intervir de forma mais assertiva e contínua nos problemas de saúde e necessidades da região.
Medicina S/A: Os alunos passam muitas horas estudando por conta da grande quantidade de conteúdo. Como a Inspirali incentiva para que eles tenham relações interpessoais dentro da escola?
Guilherme Soarez: Nossos estudantes participam das ligas médicas, lideradas pelos seus próprios colegas, sob a supervisão de um docente. Eles fazem pesquisa e organizam eventos, bate-papos, vivências e serviços de saúde em diversas especialidades. E isso é uma forma pela qual esses estudantes vão conhecendo cada uma das especialidades que existem dentro da área médica. Nós conectamos essas ligas entre as 15 escolas. O intercâmbio é muito rico para a formação e ajuda na escolha das especialidades nas quais eles pretendem se aprofundar.
Medicina S/A: Os cursos de medicina possuem uma carga de estudos intensa. Como os alunos lidam com isso? A Inspirali oferece algum suporte aos estudantes de medicina com foco na saúde mental?
Guilherme Soarez: Sim, é verdade, a carga horária é extensa e o conteúdo, denso. Muitas vezes, os alunos se sentem sobrecarregados. Pensando nisso, criamos o projeto Angatu. A palavra “angatu” significa, em tupi-guarani, alma boa, bem-estar, felicidade. O projeto tem como foco melhorar a qualidade de vida dos estudantes de medicina da instituição. O serviço conta com o uso da tecnologia do parceiro Bipp Care e está disponível aos estudantes dos 15 cursos de medicina da Inspirali. O acolhimento é individual para estudantes que estejam com sintomas mais graves de ansiedade e depressão. Além disso, o projeto contribui para a criação e o fortalecimento das relações interpessoais e dos vínculos coletivos e colaborativos, seja em grupos de acolhimento por pares (denominados “guardiões da saúde”), seja em formações e treinamentos.