As principais categorias de healthtechs ativas fundadas de 2020 a 2024 foram: bem-estar físico e mental (10%); planos e financiamentos (10%); buscadores e agendamentos (8%); inteligência de dados (8%); e seniortechs (6%).
“O setor tem mudado muito nos últimos anos, principalmente com a avanço da tecnologia e as inovações que estão surgindo nesse segmento para ajudar as instituições de saúde e os médicos, desde o diagnóstico até o tratamento, e trazer benefícios para a jornada dos pacientes”, explica Guilherme Massa, cofundador da Liga Ventures.
Mercado em expansão
O levantamento revela que o mercado de healthtechs tem somado novas empresas a cada ano. De acordo com o cofundador da Liga Ventures, o primeiro fator para esse crescimento vem da própria cadeia de valor de saúde, que é longa e complexa, gerando muitos espaços para a inovação.
“Em segundo lugar, saúde é algo de enorme importância para as pessoas, ou seja, sempre vai demandar pesquisas, novas tecnologias, adequação a novos comportamentos, é um mercado sedento por novidades. Por fim, a transformação social que vivemos, com maior longevidade da população, novos hábitos (alguns ruins, como aumento do sedentarismo e da obesidade; outros bons, como o maior acesso à informação e tecnologia) e novas necessidades dos pacientes exigem readequação da forma que produtos e serviços são ofertados”, analisa Guilherme Massa.
Distribuição de startups
O estudo traz também as regiões com maior distribuição de startups ativas. No primeiro lugar do ranking está o estado de São Paulo (50%), seguido de Minas Gerais (9%), Rio de Janeiro (8%), Rio Grande do Sul (7%), Santa Catarina (6%), Paraná (4%), Pernambuco (3%), Espírito Santo (3%), Bahia (1%) e Distrito Federal (1%).
Em relação à distribuição de startups ativas por cidade, São Paulo lidera (38%), seguida de Rio de Janeiro (7%), Belo Horizonte (7%), Porto Alegre (5%), Curitiba (4%), Ribeirão Preto (4%), Florianópolis (3%), Recife (3%), Campinas (3%) e Vitória (3%).
Tecnologias e Público-Alvo
Com relação às tecnologias mais aplicadas, destacam-se Telemedicina (23%), Data Analytics (22%), API (18%), Inteligência Artificial (17%) e Banco de Dados (15%). Quanto ao público-alvo, o estudo mostra que 49% das startups têm como foco o mercado B2B.
O estudo também mostra que 89 startups participantes aplicam inteligência artificial em suas soluções com o intuito de analisar e processar imagens, personalizar tratamentos, realizar pesquisa e desenvolvimento de medicamentos e terapias, monitorar pacientes, dar previsão e rastreabilidade de surtos e doenças e hiperpersonalização da jornada do paciente.
Guilherme Massa, da Liga Ventures, explica que, entre as maiores oportunidades para healthtechs, a digitalização de processos e a transformação digital ainda têm muito espaço para tornar o sistema mais eficiente e mais centrado no paciente. “Mas vemos uma crescente com cuidado da saúde emocional e mental, inclusive no trabalho, no autocuidado em busca de uma saúde mais preventiva do que reativa, nas seniortechs tratando pessoas com mais idade e que esperam ter qualidade de vida por muitos anos, em infraestrutura para telemedicina, nas femtechs… enfim, a saúde é um campo em que existem negócios em potencial em todos os cantos.”
Já para Ivisen Lourenço, Head de Inovação e Investimentos FespPart, existem mais startups, fundadores mais experientes e mais soluções no mercado. “Ainda que grande parte das soluções estejam concentradas em uma parcela pequena dos problemas, a diversificação é interessante para a manutenção da competitividade”, conta.
O executivo lembra que o interesse de empresas fora da indústria de saúde em oferecer produtos para o setor também trouxe um movimento positivo para o desenvolvimento de novas soluções. “Esse intercâmbio entre setores é importante para acessar tecnologias mais maduras e adaptá-las à realidade da saúde. Hoje, buscamos por parceiros que queiram cocriar ou codesenvolver soluções. Temos recursos dentro do nosso hub de inovação, a Vitall, que suporta a jornada completa com startups. Temos nos interessado por soluções que habilitem a personalização do cuidado e relacionamento com beneficiários, suportem o monitoramento e o diagnóstico remoto e que permitam a adoção de comportamentos mais saudáveis, melhorem a qualidade de vida e transformem o paciente em protagonista da sua própria saúde.”
Investimentos e Maturidade
O estudo mostra que foram realizados 83 deals entre janeiro de 2023 e abril de 2024, movimentando cerca de R$ 1 bilhão.
Outro dado interessante se refere à análise da maturidade das healthtechs mapeadas, onde 40% são emergentes, 28% estão estáveis, 16% são nascentes e 16% delas são disruptores.
Principais desafios
Mesmo com os avanços que a transformação digital tem proporcionado ao mercado de saúde, especialmente após a pandemia de covid-19, Ivisen Lourenço, Head de Inovação e Investimentos FespPart, ressalta que a digitalização total da saúde ainda está longe de ser algo concreto.
“Apesar de termos testemunhado uma evidente aceleração desse processo nos últimos anos, as iniciativas em curso abarcam somente uma fração do espectro que compõe a jornada dos pacientes. Existe, portanto, um terreno repleto de oportunidades pouco exploradas que podem revolucionar a maneira como experienciamos cuidados de saúde. A adoção de ferramentas digitais na saúde tem se dado em um ritmo sensivelmente mais lento se comparado com o avanço em outras indústrias”, conta.
Segundo o executivo, a complexidade inerente ao setor, juntamente com a fragmentação das informações que muitas vezes impede a criação de um fluxo de dados coeso e eficiente, são desafios significativos que dificultam esse progresso. “Além disso, a cultura predominante é fortemente hospital-cêntrica, ou seja, centrada nas instituições hospitalares como núcleos de cuidado e atenção à saúde, e isso representa outra barreira cultural e operacional para a plena incorporação da digitalização. Devemos considerar também as diferenças sociais em um país continental como o Brasil, que trazem contextos algumas vezes antagônicos, que impactam diretamente nas capacidades, habilidades e recursos disponíveis para a plena digitalização na saúde”, diz Lourenço.
Em face das barreiras, Lourenço lembra que o mercado avançou e já é possível observar bons exemplos, como a ampliação da adoção de prontuários eletrônicos, aplicativos de relacionamento com prestadores de saúde e operadoras, serviços de atendimento ao paciente e outros mais centrados nas operações de serviços de saúde. “Ainda temos um caminho a ser trilhado âmbito assistencial.”
Já para Guilherme Massa, cofundador da Liga Ventures, a regulação mais rígida está entre as principais dificuldades para que as healthtechs comecem a escalar. “É algo necessário, mas torna a jornada mais longa. Muito difícil ver um novo unicórnio com 2-3 anos de vida, especialmente se lida com o cuidado das pessoas. O fato é que gerir saúde é algo custoso. Portanto, um entrave é tornar o sistema todo mais eficiente”, conclui.
Para realizar o estudo foram utilizados dados da ferramenta Startup Scanner, plataforma criada pela Liga Ventures que identifica e acompanha dados de startups do Brasil e América Latina.
Para mais informações, acesse:
https://liga.ventures