Outro fator de impacto indicado pela pesquisa são as regulamentações governamentais: para 58% dos líderes de saúde no Brasil, elas também serão fatores de transformação do setor nos próximos anos, enquanto o impacto nos últimos cinco anos foi de 45%.
“O setor de saúde engloba os segmentos hospitalar, das seguradoras e das farmacêuticas, todos eles são diretamente impactados por regulamentações governamentais no Brasil, por isso as respostas dos CEOs brasileiros trazem esse impacto, inclusive maior que o impacto dessas regulamentações quando avaliamos a média global”, avalia Bruno Porto, sócio da PwC Brasil e líder para o setor de saúde.
Em 2024, a Global CEO Survey também traz um otimismo maior entre os líderes do setor de saúde no Brasil: 61% acreditam no crescimento da geração de receitas das próprias empresas nos próximos 12 meses. Quando perguntados sobre o contexto nos próximos três anos, o percentual sobe para 77%. É possível ver um otimismo semelhante no setor quando os executivos avaliam as perspectivas de crescimento global e do próprio país. Para 42% dos CEOs de saúde no Brasil e 44% no mundo, a expectativa é de aceleração da economia global nos próximos 12 meses. A título de comparação, 45% da média global entre todos os setores acreditam em uma desaceleração da economia.
Quando os brasileiros olham para o mercado interno, o percentual de quem acredita em uma aceleração econômica nos próximos meses sobe para 48%, enquanto a média no país para demais setores é de 36%. “A realidade da saúde pelo mundo é completamente diferente do Brasil, existe um mix que é afetado pelas especificidades de cada país, mas aqui há um aumento de receita do setor, inclusive para os próximos três anos, mais otimista que o global”, completa Bruno Porto.
Desafio da reinvenção
Mesmo com o cenário de otimismo, os líderes do setor se preparam para mudanças no modelo de negócios, principalmente como consequência de avanços tecnológicos, regulação e ações da concorrência. A disrupção tecnológica, as mudanças climáticas e outras megatendências globais em aceleração continuam a forçar os CEOs a se adaptar em todos os segmentos. Na saúde não é diferente.
Isso gera uma inquietação entre os CEOs em relação à sustentabilidade dos seus negócios: 41% dos brasileiros (45% no mundo) duvidam que, na trajetória atual, suas empresas se manterão viáveis além da próxima década – um aumento em relação ao ano passado. No setor de saúde, essa tendência também está presente nos resultados da pesquisa: 42% dos CEOs do setor acreditam que seus negócios não serão economicamente viáveis por mais de 10 anos, em comparação com 27% no ano passado.
Os CEOs também estão se esforçando para adaptar suas empresas às novas condições do mercado. No setor de saúde no Brasil, a pesquisa revela que o desenvolvimento de novos produtos ou serviços (65%), a formação de parcerias estratégicas (55%), a adoção de novas tecnologias (52%) e o desenvolvimento interno de uma nova tecnologia (42%), entre outras iniciativas, foram as ações que tiveram mais impacto na reinvenção dos negócios.
Oportunidades e desafios da IA
A disrupção tecnológica e a utilização da inteligência artificial, especialmente da IA generativa no setor de saúde, são alguns dos pontos de atenção da pesquisa. Isso porque a adoção dessa tecnologia no setor de saúde no Brasil e a adaptação da estratégia tecnológica para lidar com a inovação que ela representa estão acima do registrado no recorte global do setor.
Considerando os próximos 12 meses, as expectativas em relação à IA generativa são bastante positivas e semelhantes nos três recortes. Nos próximos três anos, espera-se que o impacto dessa tecnologia seja ainda maior.
Nos últimos 12 meses, 32% dos CEOs de saúde no Brasil mudaram a estratégia de tecnologia de suas empresas por causa da IA generativa. Um percentual acima da média global do setor, de 25%. Além disso, 29% dos respondentes brasileiros afirmam que a IA generativa já foi adotada em toda a empresa, enquanto a média global para o setor é de 26%.
Para os próximos 12 meses, 65% dos respondentes da indústria de saúde no Brasil afirmam que a IA generativa melhorará a qualidade dos produtos e serviços de suas empresas, e 52% acreditam que essa tecnologia aumentará a capacidade das empresas em gerar confiança com os stakeholders.
Os desafios são ainda maiores nos próximos 3 anos, indicam os líderes do setor de saúde. Para 81% deles, a IA generativa exigirá que a maior parte da sua força de trabalho desenvolva novas habilidades. Além disso, 77% acreditam que essa nova tecnologia também aumentará a intensidade competitiva do setor.
Principais ameaças
Além dos fatores e megatendências de transformação do setor, a pesquisa da PwC também busca entender o que os CEOs indicam como principais obstáculos para o setor a curto e médio prazos. Na indústria de saúde, tanto no Brasil como no mundo, o ambiente regulatório é apontado como o principal inibidor da reinvenção (no mínimo, de forma moderada) — um resultado acima da média brasileira. Em seguida, vêm as prioridades operacionais concorrentes, principal inibidor na média das indústrias brasileiras.
“Muitas restrições percebidas à reinvenção recaem diretamente na esfera de influência do CEO. Processos burocráticos, prioridades operacionais concorrentes, recursos financeiros limitados, competências da força de trabalho e recursos tecnológicos estão sujeitos a alguma intervenção dos CEOs, como também a eficiência, que é uma área de preocupação para muitos líderes”, comenta Bruno Porto.
Crescimento em outros países
Em relação aos mercados considerados mais relevantes para o crescimento, a indústria de saúde no Brasil segue a média de todas as indústrias no país: Estados Unidos e China aparecem no topo da lista. Para os líderes da indústria de saúde no mundo, o Brasil, que em 2023 dividia o quinto lugar com França e Japão, já não aparece entre os cinco principais mercados. Estados Unidos e Alemanha seguem nas duas primeiras posições.
Para os líderes brasileiros do setor, os Estados Unidos também aparecem no topo. A China divide a segunda posição com Canadá, que sequer estava entre os cinco primeiros em 2023, e México, que ocupava a quarta posição. Argentina e Colômbia, que também não apareciam entre os cinco primeiros, vêm na sequência, seguidos pela Alemanha, que caiu da terceira para a quinta posição.