EDIÇÃO DIGITAL

Reportagem de Capa

Panorama da Saúde Digital 2024

A pesquisa TIC Saúde, que completa 10 anos, apresenta uma análise detalhada da adoção e do uso de tecnologias na saúde brasileira e traz pela primeira vez dados sobre aplicação de inteligência artificial no setor.

Após período de estabilidade, a oferta de serviços online aos pacientes cresceu em 2023. É o que revela a nova edição da TIC Saúde, lançada pelo Comitê Gestor da internet no Brasil (CGI.br). A pesquisa é conduzida pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br).

Entre 2022 e 2023, o agendamento de consultas pela internet subiu de 13% para 34%, enquanto a marcação de exames aumentou de 11% para 19% e a visualização de prontuário de 8% para 18%. Já no sistema privado, a visualização online de resultados de exames apresentou elevação significativa (de 33% em 2022 para 40% em 2023).

Desde 2013, a pesquisa TIC Saúde investiga a adoção e o uso de tecnologias de informação e comunicação (TIC) nos estabelecimentos de saúde brasileiros. Ao chegar à sua décima edição, a série histórica da pesquisa possibilita a análise da evolução da infraestrutura e da adoção de aplicações baseadas em TIC em estabelecimentos de saúde em todo o país, contribuindo para uma compreensão do avanço da saúde digital ao longo do tempo e dos desafios que ainda persistem. Nessa edição, são apresentados os resultados sobre adoção e utilização das TIC nos estabelecimentos de saúde, aprofundando a análise sobre o uso de inteligência artificial (IA), com novos indicadores sobre tipos de ferramentas, aplicações e motivos para a não adoção de IA. Adicionalmente, a pesquisa ampliou a desagregação dos resultados, apresentando informações inéditas por unidade da federação (UF) para alguns dos temas investigados.

Os resultados de 2023 indicam que 98% dos estabelecimentos de saúde usaram computadores e 99% acessaram a internet. O acesso à infraestrutura de TIC nos estabelecimentos públicos avançou gradualmente ao longo dos anos. O uso de computador passou de 68%, em 2013, para 97% em 2023, e o acesso à internet, de 57% para 98%. Nos estabelecimentos privados, o acesso a computador e internet estava universalizado desde 2013. Ainda se verificam disparidades regionais no acesso a computadores e internet, sendo que os menores percentuais foram registrados em Roraima (80%), Maranhão (85%) e Amapá (90%). Por outro lado, nos estados das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, o acesso a computadores e internet é universal.

Os principais dispositivos utilizados nos estabelecimentos de saúde foram computadores de mesa (96%) e computadores portáteis (64%). A exceção se deu nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), em que o uso de tablets aumentou, passando de 29%, em 2019, para 59% em 2023.

Entre os estabelecimentos com acesso à internet, 95% utilizaram conexões via cabo ou fibra ótica e 43% conexão móvel ou via modem. A velocidade máxima de download da conexão principal aumentou gradualmente ao longo dos anos, adaptando-se às necessidades das novas tecnologias utilizadas. Em 2013, apenas 1% dos estabelecimentos tinha conexão acima de 100 Mbps, chegando a 33% em 2023. Já o percentual de estabelecimentos com velocidade da conexão até 1 Mbps era de 23% em 2013, chegando a 10% em 2023.

Dados dos pacientes em formato eletrônico

Os sistemas eletrônicos para registro de informação dos pacientes estiveram disponíveis em 88% dos estabelecimentos de saúde, sendo 85% dos públicos e 91% dos privados. Os estabelecimentos com internação e até 50 leitos foram os que menos utilizaram sistemas eletrônicos (72%); em contrapartida, aqueles com mais de 50 leitos de internação foram os mais equipados com essa ferramenta (96%).

Observam-se disparidades regionais, visto que as regiões Norte (85%) e Nordeste (83%) tiveram menores percentuais de estabelecimentos de saúde utilizando sistemas eletrônicos, enquanto a região Sul foi a com maior uso (93%). A existência de sistema eletrônico nos estabelecimentos do Distrito Federal é praticamente universal, seguido por Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Os estados com menor uso de sistema eletrônico nos estabelecimentos de saúde foram Amapá, Maranhão e Acre (Figura 1). 

Segurança da Informação

Esses avanços na adoção de TIC têm proporcionado, também, um aumento na quantidade de dados pessoais que circulam no ambiente digital, especialmente no contexto da saúde digital, em que diferentes organizações têm acesso a informações sensíveis dos pacientes. Nesse sentido, é fundamental que sejam implementadas medidas de segurança da informação para proteger esses dados.

Os resultados indicam que persistem os desafios para os estabelecimentos efetivamente se adequarem à Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) e se mantém a disparidade entre estabelecimentos públicos e privados (Gráfico 1 ). Apenas a publicação da política de privacidade em website aumentou entre 2022 e 2023, de 26% para 30%. As demais medidas permaneceram estáveis em relação ao ano anterior.

Outro aspecto relevante é a preparação das equipes de saúde para o uso de ferramentas digitais. Apenas um terço dos estabelecimentos de saúde ofereceram treinamento em segurança da informação para seus funcionários. Um aspecto positivo foi o aumento da proporção de estabelecimentos com internação de até 50 leitos (de 18% em 2022 para 26% em 2023), com mais de 50 leitos (de 48% para 55%) e de estabelecimentos voltados ao serviço de apoio à diagnose e terapia (SADT) (de 47% para 52%) que ofereceram esse treinamento. Em 2023, a disparidade entre estabelecimentos públicos (16%) e privados (44%) que adotaram essas medidas também se manteve estável.

Serviços de Telessaúde

O acesso à telessaúde tem o potencial de ampliar a oferta dos serviços de saúde no país, superando barreiras geográficas para levar atendimento especializado aos pacientes. Em 2023, houve um aumento significativo do percentual de estabelecimentos que ofereceram educação a distância, atividades de pesquisa a distância e teleconsulta (Gráfico 3). A ampliação dessa oferta foi impulsionada pelos estabelecimentos públicos, que passaram a disponibilizar mais serviços de educação a distância (de 24% para 31%), atividades de pesquisa a distância (de 15% para 20%) e teleconsulta (de 15% para 21%) entre 2022 e 2023.

Destaca-se que a teleconsulta esteve mais presente nas regiões Norte (24%) e Nordeste (24%). Entre as UF da região Norte, um terço dos estabelecimentos de saúde do Acre, de Rondônia e de Tocantins disponibilizaram esse serviço. Na região Nordeste, os estados que mais contaram com esse serviço nos estabelecimentos de saúde foram Bahia, Maranhão e Piauí.

Maior disponibilidade de serviços online ao paciente

O acesso à internet tem aumentado, e cada vez mais as pessoas têm utilizado aplicativos para realizar serviços online e buscar informações sobre saúde na rede (54% dos usuários de internet em 2023). A oferta de serviços online por parte dos estabelecimentos havia permanecido estável nos últimos anos, sempre ao redor de um quarto dos estabelecimentos de saúde, mas em 2023 verificou-se um aumento significativo em quase todos os serviços investigados pela pesquisa. A única exceção foi a interação com a equipe médica.

Os maiores aumentos foram observados no agendamento de consultas e agendamento de exames (Gráfico 2). Esses resultados foram influenciados pela ampliação da oferta desses serviços nos estabelecimentos públicos, principalmente no agendamento online de consultas e de exames. A utilização desses serviços pode melhorar a gestão do tempo e aumentar a eficiência dos profissionais, além de proporcionar maior conveniência aos pacientes.

Adoção e uso de novas tecnologias

Ferramentas mais avançadas e complexas, como análise de Big Data, IA e Internet das Coisas (IoT), podem contribuir para a ampliação do acesso aos cuidados de saúde, possibilitando diagnósticos mais precisos e o monitoramento mais eficaz de tratamentos. No entanto, um pequeno número de estabelecimentos de saúde fez uso desse tipo de tecnologia.

A análise de Big Data foi realizada por cerca de 4% dos estabelecimentos de saúde. As principais fontes de informações foram dados do próprio estabelecimento: 73% dos estabelecimentos utilizaram dados de fichas cadastrais e prontuários e 65% utilizaram dados provenientes de dispositivos inteligentes.

Tecnologias como IA, robótica e IoT foram utilizadas por um baixo percentual de estabelecimentos de saúde no país. Cerca de 3.200 fizeram uso de IA, 3.800 utilizaram robótica e 4.300 utilizaram IoT. Os estabelecimentos com internação e mais de 50 leitos e os SADT foram os que mais utilizaram essas tecnologias.

Para compreender melhor a adoção de IA nos estabelecimentos de saúde, foram incluídos novos indicadores sobre o tema. Os resultados indicam que as ferramentas de IA mais utilizadas foram de automatização de processos de fluxos de trabalho (46%), reconhecimento de fala (33%) e mineração de texto e análise de linguagem escrita ou falada (32%). As de reconhecimento e processamento de imagens e de aprendizagem de máquina para predição e análise de dados foram utilizadas por 21% e 16% dos estabelecimentos que utilizaram IA, respectivamente.

Ainda em relação ao uso de IA, os principais tipos de aplicação foram para segurança digital e organização de processos clínicos e administrativos. Gestão de recursos humanos ou recrutamento e auxiliar na dosagem de medicamentos foram as aplicações menos citadas (Gráfico 4). Por outro lado, foram investigados os principais motivos para os estabelecimentos não utilizarem IA, a saber: as soluções de IA não são uma prioridade, incompatibilidade com os equipamentos, software ou sistemas existentes no estabelecimento de saúde e os custos muito altos.

Agenda para as políticas públicas

Os resultados da décima edição da pesquisa TIC Saúde, conduzida entre fevereiro e julho de 2023, com 4117 gestores de estabelecimentos de saúde em todo o país, revelam avanços significativos no que diz respeito aos serviços online e de telessaúde, mas também apontam para uma estagnação na adoção de sistemas eletrônicos e funcionalidades disponíveis. 

Os principais desafios identificados estão relacionados à gestão e governança de TI, com uma diminuição no número de estabelecimentos de saúde que possuem áreas dedicadas a gestão de TI e um aumento na terceirização desses serviços. Além disso, o baixo percentual de estabelecimentos de saúde que realizaram ações para se adequar à LGPD é visivelmente deficitário, especialmente considerando o crescente volume de dados dos pacientes e a importância da segurança e privacidade dessas informações.

Os avanços observados foram em relação à maior informatização dos hospitais, refletindo uma tendência ascendente no uso de informações em formato eletrônico e de funcionalidades nos sistemas, tanto para gestão quanto para processos clínicos. As UBS também apresentaram progresso na informatização, com a maioria utilizando sistemas eletrônicos e mantendo os dados dos pacientes em formato eletrônico. Isso não apenas melhora a eficiência do atendimento, mas também facilita a transmissão de informações da saúde local para um melhor monitoramento da saúde pública.

Um destaque importante desta edição é a ampliação da oferta de serviços online oferecidos aos pacientes, assim como os avanços na telessaúde, que, após anos de estabilidade, apresentou crescimento. Nessa área, o MS tem realizado esforços para ampliar a oferta de serviços de telessaúde, principalmente na atenção primária e em regiões mais afastadas dos grandes centros urbanos. Assim, o projeto Norte Conectado, por exemplo, visa levar conexão à internet para regiões carentes, promovendo ações coordenadas com o ministério para oferecer assistência médica e telessaúde a comunidades na região amazônica.

Como inovação, essa edição da pesquisa introduz alguns resultados por UF, proporcionando uma compreensão mais detalhada das disparidades regionais na adoção de tecnologias digitais. Além disso, investigou-se mais profundamente o uso de IA e as razões para sua não adoção nos estabelecimentos de saúde. Observou-se que as ferramentas de IA são predominantemente utilizadas para automatização de processos administrativos e clínicos, bem como para aplicações em segurança digital. O principal motivo para a não adoção foi a falta de prioridade atribuída a essa tecnologia pelos estabelecimentos, o que pode estar relacionado ao tipo de atendimento oferecido, já que os hospitais com grande número de leitos foram os que mais adotaram essas tecnologias.

Embora os resultados indiquem um baixo percentual de estabelecimentos utilizando IA, o desafio que se põe é também quanto às regulamentações necessárias para seu desenvolvimento e sua adoção, garantindo transparência dos algoritmos, explicabilidade e precisão dos sistemas automatizados.

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